‘Por mares nunca dantes navegados’…

Já é mais que sabido que a decisão de levar dois caiaques insufláveis não foi, de todo, consensual. Ideia do Turista, o mais arrojado, destemido e aventureiro (nota mental: melhor por-lhe um babete antes de ele ler isto…). Muito tempo antes da viagem, ele atirou o barro à parede… Disse-o em tom de brincadeira e ouviu logo uns quantos “Não! Estás doido!”… Ocupar espaço de bagagem com dois caiaques não estava a obter a concordância do resto do clã…

Depois de uma análise mais cuidada ao mapa da ilha e tentando perceber se conseguiríamos chegar à “foz” da ribeira de S. Tomé, onde o mapa indiciava haver todas as condições para uma queda para o mar, sem termos de remar horas a fio, o sim lá ganhou. Mesmo assim, a Viajante foi sempre um pouco incrédula, tal como S. Tomé, que só acreditou vendo.

A partida foi desde o Porto da Panela, na Fajã de S. João. Enchemos os caiaques, vestimos os coletes e aí fomos nós, quais descobridores destemidos, mar adentro. Deviam ser perto das 16h quando saímos… O mar, este, já o tínhamos visto mais calmo. O primeiro km foi feito com uma ondulação algo desordenada que, em mar aberto, mesmo que só a uma centena de metros da costa, é sempre algo que mete respeito. Se a esta agitação juntarmos o avançar das horas, ficava cada vez mais difícil ver o que ia por baixo da superfície, adensando o respeito que o mar nos merece, de tal forma de que o tal destemido que falei há pouco, andou mais para trás nos inícios, quase que a apalpar o mar…

A Fajã de S. João deu-se a conhecer numa nova perspetiva, também ela encantadora. Fomos remando, remando e remando até que, após contornarmos um pequeno cabo, avistámos ao longe a primeira queda de água a cair para o mar! Foi ver para crer! Á medida que nos aproximávamos, fomos percebendo que havia mais quedas, umas mais avantajadas que outras, mas todas, no seu conjunto, se apresentavam como se de um cenário num palco se tratasse e nós, na plateia, sozinhos, balançando com o badalar das ondas, num mar já mais ordenado e calmo…

Hora de voltar para trás, já com quase duas horas de “distância” desde que saímos do Porto da Panela. Tínhamos mesmo de regressar se queríamos chegar antes do anoitecer. Quase a chegar à Fajã de S. João avistámos um grupo de cabras do monte, que percorriam em fila os calhaus junto à costa. O mar este até parecia outro, muito mais calmo, o que nos permitiu admirar mais um pôr de sol, desta no meio do mar, onde as palavras paz e serenidade serão as que melhor descrevem a experiência…

Epílogo: Uns dias depois, não satisfeito, o Turista acabou por ir até a Fajã dos Vimes, desta sozinho…