Descanso dos guerreiros..

Em jeito de conclusão, não queríamos encerrar o capítulo São Jorge sem antes fazer uma referência especial a um dos alojamentos: A casa do Avô Coelho. Dos muitos sítios por onde já tivemos a sorte de pernoitar, este foi sem dúvida dos que mais nos surpreendeu.

Trata-se de uma pequena adega recuperada pelos atuais proprietários, casa muito coquette, ideal para um casal mas que se adaptou perfeitamente aos 4, onde nos proporcionaram um acolhimento 5 estrelas, anfitriões sempre presentes quando preciso, isto respeitando sempre o nosso espaço, vizinhos super prestáveis, que até nos forneceram hortaliças e peixe (legumes frescos e mesmo peixe nos supermercados das ilhas nem sempre são fáceis de encontrar), porto/praia para darmos uns mergulhos a uns 5 minutos a pé, churrasqueira, que usámos e abusámos, e um terraço.. Fomos espectadores privilegiados dos melhores pores de sol que já tivemos a oportunidade de vivenciar. Esta casa e mesmo a fajã na qual se encontra, a de São João, acabaram por ser em muito responsáveis pelas boas recordações e já alguma saudade que temos desta viagem.


A segunda estadia, já para os lados de Velas, tinha tudo para ser igual ou até superior à primeira: localização, casa muito espaçosa, vista para o Pico e pores de sol ainda mais tchanan, comentários no booking com rasgados elogios aos anfitriões, piscina com um cenário brutal, enfim, a nossa expectativa era que fosse a cereja no topo do bolo, só que não.. Um caso típico onde a embalagem é definitivamente melhor que o conteúdo.. Ficam algumas fotos do bom que o alojamento tem, mas que ficou muito a dever à experiência anterior.

Turistas à procura de cetáceos!

Há quem defenda que conhecido um local, só devemos lá voltar se tivermos deixado para trás algo que gostaríamos muito de fazer. No caso dos Açores, tínhamos 3: canyoning (Flores ou São Jorge), mergulho com mantas (Santa Maria) e observação de cetáceos (todas as ilhas, com destaque para o triângulo). Ainda estivemos indecisos entre a 1ª e a última, mas lá resolvemos deixar o canyoning para as Flores, parece-nos uma boa desculpa para lá voltar…

Observar os cetáceos que abundam pelo mar das ilhas era uma das experiências que ansiávamos desde a nossa primeira passagem pelo arquipélago. Decisão tomada, lá procurámos uma empresa do ramo (não são muitas em S. Jorge) e marcámos. Do outro lado do telefone, atendeu-nos o Miguel, da SeaExplorersAzores, com o qual combinámos todos os pormenores e no dia marcado, bem cedo, lá fomos ter com ele até à marina de Velas. Aqui, tivemos direito a um briefing onde recebemos alguma informação sobre as espécies que poderíamos encontrar durante o passeio e conhecemos a Rita, também ela da SeaExplorersAzores.

O Miguel e a Rita são ambos biólogos marinhos. A formação destes aliada ao facto de um deles ser natural da ilha, para além de um regalo para os sentidos, tornou este passeio num tempo formativo.

O barco, semirrígido, levou-nos primeiro num calmo passeio onde pudemos observar a zona costeira de Velas. Avistámos noutra perspetiva o famoso arco desta localidade e algumas espécies que habitam nas rochas. De seguida passeámos junto ao Morro e Baía Entre-Morros. Embalados pela suave ondulação, não fossemos nós começar a querer fechar a pestana, o Miguel acelerou e rumámos ao infinito e mais além (vá, andamos lá perto)… Fomos chatear cagarros! É incrível a quantidade de cagarros que boiam nas águas do mar alto. Questionámos muitas vezes por onde andariam durante o dia (porque à noite não tínhamos dúvidas, é um all nigth long nas zonas costeiras das ilhas!).

Fomos levados até à Baixa dos Rosais, local muito procurado por mergulhadores com experiência. Encontra-se a 3 milhas marítimas da Ponta dos Rosais. Esta Baixa é uma formação geológica em que o fundo é dominantemente constituído por camadas sobrepostas de escoadas lávicas de natureza basáltica onde surgem grandes fissuras e acentuados declives. A sua coroa, a cerca de 15 metros de profundidade, apresenta à sua volta uma abundância de diferentes espécies, muitas vezes organizados em cardumes, daí ser um local tão procurado.

Contrastando com o início da viagem, aqui o mar não estava meigo, ondulação já significativa e muito desordenada, mas ainda assim não impediu o Turista e o Melga Júnior que, após alguns conselhos do Miguel (que disse que quem manda é o mar), quiseram meter-se na água para ver o rochedo. E conseguiram, mas não estiveram por lá muito tempo. Dizem que valeu a pena irem apesar do respeito que este lhes incutia, que o contraste entre a anarquia aparente que viam à superfície desaparecia mal mergulharam a cabeça. Aquela imensidão, azul profundo e silêncio, onde no meio do nada foi possível avistar a tal ponta, com cardumes a polvilharem a tela aqui e ali, serenos, quase que em transe.

Depois desta agitada parte do passeio, o Miguel e Rita conduziram-nos durante algum tempo para mais longe da costa, para tentar ver os cetáceos, mas o mar não estava de feição, só os peixes voadores parecem gostar de tanta agitação 😊. Os cetáceos, esses, vendo o reboliço que estava à superfície ou então, souberam que estávamos à procura deles, deixaram-se estar a tomar um chazinho de algas, algures no fundo do mar. Quando embarcamos neste tipo de passeio, é preciso ter noção que nunca é garantido o avistamento, por muito que quem forneça os serviços possam perceber do assunto, ninguém conseguiu ainda estabelecer um contrato com as criaturas marinhas para virem dar um ar da sua graça. Foi o caso naquele dia, alguma desilusão, claro está, mas paciência… É a vida no mar!

De regresso para mais junto da costa de São Jorge, fomos ouvindo o Miguel a falar sobre as suas aventuras de rapaz, quando com os amigos explorava alguns locais. A dada altura, parou o barco, pediu-nos para colocar a máscara e saltou para a água, para nos acompanhar a um dos locais áquaticos mais bonitos onde já estivemos: uma espécie de algar/caverna, apenas acessível por mergulho. Como o sol estava a pique e existem uns buracos no teto da gruta, fomos presenteados com um cenário único, com os raios solares a furarem a água como se de colunas de luzes de tratasse! Um dos momentos altos do passeio e até mesmo das férias.

Dali partimos em direção a Velas, sempre junto à costa. Pelo caminho o Miguel foi-nos falando de outros locais de interesse, quasi não frequentados por turistas, que acabamos por explorar nos dias remanescentes…

Igreja de Santa Bárbara (Manadas) – qual oásis no deserto

A beleza de São Jorge é acima de tudo paisagística, havendo poucos apontamentos de ordem arquitetónica com valor patrimonial na ilha (e mesmo os existentes nem sempre tiveram intervenções que nos pareceram felizes).
Não havendo na trupe ninguém que seja um guru no que toca a monumentos, estilos e afins, não deixamos de ter interesse e gosto em visitar tudo o que possa ter história, costumes e cultura associados. É por isso que a visita à igreja de Santa Bárbara, em Manadas, foi vivenciada como se de um bálsamo se tratasse.
Antes de mais, à chegada somos presenteados com os restos de um pequeno forte que se apresenta como uma espécie de varanda para?.. O Pico, pois claro!
Após tiradas umas quantas fotos candidatas a postais, tempo de nos concentrar no tema desta paragem.

Para quem chega e olha para a igreja de Manadas, diria que é mais uma, visto o seu exterior apresentar linhas simples, de aspeto cuidado, sem grandes ornamentos.
No entanto, toda esta aparente modéstia serve apenas de catalisador para o momento em que entramos. O seu interior.. É uma pequena joia, um concentrado de arte religiosa na forma de painéis de azulejo, retábulos e afins. Não é por isso de estranhar que por lá tenhamos ficado uma larga dezena de minutos, saltitando de pormenor em pormenor..

Sem dúvidas um must have num roteiro à ilha..

‘Por mares nunca dantes navegados’…

Já é mais que sabido que a decisão de levar dois caiaques insufláveis não foi, de todo, consensual. Ideia do Turista, o mais arrojado, destemido e aventureiro (nota mental: melhor por-lhe um babete antes de ele ler isto…). Muito tempo antes da viagem, ele atirou o barro à parede… Disse-o em tom de brincadeira e ouviu logo uns quantos “Não! Estás doido!”… Ocupar espaço de bagagem com dois caiaques não estava a obter a concordância do resto do clã…

Depois de uma análise mais cuidada ao mapa da ilha e tentando perceber se conseguiríamos chegar à “foz” da ribeira de S. Tomé, onde o mapa indiciava haver todas as condições para uma queda para o mar, sem termos de remar horas a fio, o sim lá ganhou. Mesmo assim, a Viajante foi sempre um pouco incrédula, tal como S. Tomé, que só acreditou vendo.

A partida foi desde o Porto da Panela, na Fajã de S. João. Enchemos os caiaques, vestimos os coletes e aí fomos nós, quais descobridores destemidos, mar adentro. Deviam ser perto das 16h quando saímos… O mar, este, já o tínhamos visto mais calmo. O primeiro km foi feito com uma ondulação algo desordenada que, em mar aberto, mesmo que só a uma centena de metros da costa, é sempre algo que mete respeito. Se a esta agitação juntarmos o avançar das horas, ficava cada vez mais difícil ver o que ia por baixo da superfície, adensando o respeito que o mar nos merece, de tal forma de que o tal destemido que falei há pouco, andou mais para trás nos inícios, quase que a apalpar o mar…

A Fajã de S. João deu-se a conhecer numa nova perspetiva, também ela encantadora. Fomos remando, remando e remando até que, após contornarmos um pequeno cabo, avistámos ao longe a primeira queda de água a cair para o mar! Foi ver para crer! Á medida que nos aproximávamos, fomos percebendo que havia mais quedas, umas mais avantajadas que outras, mas todas, no seu conjunto, se apresentavam como se de um cenário num palco se tratasse e nós, na plateia, sozinhos, balançando com o badalar das ondas, num mar já mais ordenado e calmo…

Hora de voltar para trás, já com quase duas horas de “distância” desde que saímos do Porto da Panela. Tínhamos mesmo de regressar se queríamos chegar antes do anoitecer. Quase a chegar à Fajã de S. João avistámos um grupo de cabras do monte, que percorriam em fila os calhaus junto à costa. O mar este até parecia outro, muito mais calmo, o que nos permitiu admirar mais um pôr de sol, desta no meio do mar, onde as palavras paz e serenidade serão as que melhor descrevem a experiência…

Epílogo: Uns dias depois, não satisfeito, o Turista acabou por ir até a Fajã dos Vimes, desta sozinho…

PR 01 – Serra do Topo – Caldeira de Santo Cristo – fajã dos Cubres (10km linear)

É impossível começar a escrever sobre este PR sem deixar escapar uns suspiros. Este é sem dúvida, um dos mais agradáveis percursos pedestres da ilha de S. Jorge. E é também o mais procurado pelos turistas, o mais calcorreado de todos! Enquanto que nos outros trilhos, com sorte, encontramos uma ou duas pessoas, neste foram dezenas de pessoas, falantes de diversas línguas, uns mais preparados para o caminho que outros (sapatilhas brancas, do dia a dia, enlameadas ou ‘embosteadas’ – definição para sapatilhas com novos acabamentos, baseada numa mistura de lamas e poios bovinos). 

Para quem fica nesta ilha numa estadia muito breve, dois ou três dias, ou pouco mais, este percurso é imperdível, para chegar à Fajã de Santo Cristo e terminar na Fajã dos Cubres: dois postais de visita da ilha!

O trilho inicia na Serra do Topo, onde existe um parque de estacionamento com bastantes lugares que, dada a popularidade do PR, costumam ser parcos, por isso a regra é chegar cedo ou então estacionar na fajã dos Cubres que tem muito mais lugares e apanhar táxi para o Topo. Seguindo as indicações do trilho, que nos faz passar por zonas de pastagem, em que é necessário abrir e fechar portões de madeira para o gado não fugir, fomos descendo e observando aquela paisagem (acho que não a consigo descrever, mas ela está-me aqui bem cravada na memória).

Parando aqui e ali para as fotos da praxe com o gado que se está nas tintas para quem passa, porque há tanto verde para saborear, descemos até encontrar um pequeno desvio ao trilho, para observar uma cascata, que nomearam de Cascata Pequena. Ali foi um bom sítio para fazermos a pausa café da manhã, com o rumor das águas que caíam do alto da cascata… Saímos dali para continuar a caminhada, pois entretanto chegou uma família numerosa (das sapatilhas brancas…) e era necessário dar-lhes espaço para apreciarem aquele espaço.

Ainda nos cruzamos com mais um amigo de quatro patas com crina, já começa a ser praxe por estas bandas, e, para não variar, lá encetamos contactos.

Continuando, encontramos um local de onde podemos avistar a caldeira de Santo Cristo, como quem avista o tal ambicionado troféu!

Com forças redobradas, rapidamente descemos até à Fajã, que, na entrada, nos faz percorrer um carreiro/caminho entre muros de pedra negra carregados de aloés. Este leva-nos até ao Santuário do Senhor do Santo Cristo.

Ali fizemos um pequeno desvio e prosseguimos pela zona de calhaus rolados, para ver o mar e ao mesmo tempo a vista sobre a Fajã e Lagoa. É nesta que crescem as afamadas amêijoas da Caldeira de Santo Cristo, pitéu que todo o turista espera (e deve!) provar quando vem à ilha. 

Hora de refrescar o corpo nas águas da lagoa, uma experiência que recomendamos (uso de sapatos de água altamente recomendável). Ali nos mantivemos por um bom bocado e almoçámos. E as ameijoas?! Não as provaram? – perguntam vocês… Já tínhamos provado em 2016. É um pitéu dispendioso e em boa verdade, as que estavam nos restaurantes naquela altura eram congeladas visto termos estado em pleno período de defeso da apanha … Por isso, guardamos o dinheiro para outras aventuras.

Como o trilho continua até à Fajã dos Cubres, lá tivemos de deixar aquele postal e retomar o caminho.

não sem antes atiçarem uma fera contra o Turista… Bobby, ataca!

O trajeto entre a Fajã de Santo Cristo e a Fajã dos Cubres, com a Fajã do Belo pelo meio, é partilhado com os veículos de 4 rodas, vulgo moto4, que circulam para servir de táxi aos impossibilitados de percorrer o caminho a pé (se bem que alguns/muitos mais pareciam padecer de preguiça…). Como o caminho é muito estreito, foram diversas as vezes que o povo caminhante teve de se empoleirar onde era possível, para deixar passar tais veículos. Depois de passar a Fajã do Belo, a nossa visão consegue já alcançar parte da Fajã dos Cubres, outro local que não fica nada atrás da Fajã de Santo Cristo em termos de beleza.

Mesmo à entrada da Fajã dos Cubres, existe um grande parque de estacionamento onde se encontram alguns táxis, para quem não quiser prosseguir. Nós prosseguimos, visitando a parte das lagoas (nestas é proibido tomar banho) e depois para o centro da localidade, onde junto à igreja, se encontram alguns cafés/roulotes e uma fila ordenada de táxis que aguardam a chegada dos turistas que precisem de ser transportados até ao parque eólico. A viagem custou pouco mais de 20€ e demorou cerca de 20 minutos.

Ribeira de São João

percurso do dia

Dia de descanso dos percursos! E para “desenjoar” um pouco dos trilhos marcados da ilha, nada melhor do que ficar por perto e explorar o local onde estávamos alojados. Em conversa com locais, já tínhamos ficado com a pulga atrás da orelha acerca de um poço + queda de água que se encontram a montante da ribeira que desagua nos limites da fajã. Se a isto acrescentarmos o facto das águas desta serem cristalinas, estava feito o convite, pelo que, neste dia de repouso, nada melhor do que fazer nova caminhada.. 🤦🏻‍♂️😂

Revelou ser uma boa aposta, o trilho acabou por ser o leito da ribeira, onde fomos saltando de pedra em pedra.

A progressão é feita ribeira acima, estando esta na base de um mini desfiladeiro, com autênticas paredes a balizar o seu leito em alguns pontos, pequenas quedas de quando em quando, até conseguirmos avistar finalmente uma queda de água e o seu poço.

Pelo meio, alguém (aka Viajante) aproveitou para arranjar algum material de marketing.. 😁

Moral da história, estivemos por lá toda a manhã, numa piscina natural só nossa onde, numa das paredes, existiam fios de água a cair, a fazer lembrar um pouco as 25 fontes, na Madeira. Não fosse não termos levado o almoço, provavelmente teríamos por lá ficado o dia todo..

fajã de São João (fonte: google maps)

GR01 SJO – Etapa 1

Troço Fajã de São João – Topo

A opção de fazermos troços de Grandes Rotas para complementar os PRs já existentes não é novidade, já assim foi em Santa Maria e Flores. Se há coisa que sabemos (ou deveríamos saber..) há muito, é da importância de estudarmos o percurso, sendo a tarefa facilitada se tivermos o panfleto dos mesmos, que reúne um concentrado de informação. No caso deste troço que, dada a extensão e sendo linear, nos obrigaria sempre a termos de utilizar um meio complementar de locomoção, neste caso um táxi, deveríamos ter sido mais criteriosos quanto ao ponto de partida. À semelhança do que aconteceu para outros percursos, estando “sediados” na fajã de São João, não nos quisemos chatear logo cedo com transportes e iniciamos a partir dali. Ora, voltando um pouco atrás, para a tal história de prepararmos e termos um concentrado de informação no panfleto dos percursos, pois bem, há lá um dado que era particularmente importante no que toca ao que íamos fazer neste dia: a topografia! Moral da história, foram uns 450m de acumulado positivo logo no primeiro Km..  🙄

Resultado, fotos só depois do primeiro km! 😂

Tirando a parte do acesso à fajã do Cardoso (o tal que “escalamos”), este troço do percurso é sobretudo caracterizado por caminhos agrícolas, em terra batida, que nos proporcionam belas vistas para o mar aberto (já é preciso fazer um esforço para conseguirmos ver a ilha do Pico).

Também nos cruzamos por mais uns cursos de água, mas nenhum deles com a qualidade/aspeto da ribeira da São João. Fizemos uma pequena paragem num deles, que formava um pequeno poço, onde o único maluco, perdão, corajoso foi o Turista. Ainda tentou desencaminhar outros a darem um mergulho, com o argumento que o fenómeno da água mais turva seria como no poço do bacalhau, nas Flores, mas sem sucesso.. Mesmo o próprio saiu de lá pouco convencido e a rezar para que não lhe nascesse nenhum braço no meio da testa..

Retomando caminho e já com a barriga a apertar, foi ainda possível conviver um pouco com outro animal de 4 patas, que se encontra com alguma facilidade na ilha, o cavalo.

Acabamos por chamar um táxi e fomos almoçar a casa. Não obstante, já mais para o final de uma tarde farrusca, com alguma chuva à mistura, demos um salto até à Vila do Topo para “acabar” o trilho e deambularmos um pouco pela localidade.

PRC 06 SJO

Norte Pequeno – Rota circular (10,8km)

Graciosa à vista 💖

Com as mochilas abastecidas de mantimentos e água, rumámos até Norte Pequeno, local de partida para o percurso de hoje. A parte inicial faz-nos passar pelo povoado e depois por terras onde as vacas, cavalos e cabras tomam as suas refeições de pasto, com vista para a ilha Graciosa.

A descida começa a fazer-se sentir cada vez mais acentuada até à Fajã do Mero, tão acentuada que deu origem a um monumental malho da viajante, que mesmo com o auxílio dos bastões, conseguiu tal proeza… No meio de tanta verdura, fomos descendo cuidadosamente o trilho aos ziguezagues até encontrar as primeiras habitações da Fajã do Mero.

Nesta Fajã podemos encontrar um exemplar bem conservado de uma habitação tradicional.

casa típica – uma espécie de Santana (Madeira) à moda de São Jorge

Depois de passar alguns minutos a observar esta Fajã com nome peixe, continuamos a caminhada em direção à Fajã da Penedia. Aqui encontramos uma estrada de terra vermelha, algumas habitações e uma ermida.

Prosseguindo o trilho, fomos em direção à Fajã das Pontas. O troço é feito por uma zona mais junto ao mar, com piso de pedra solta nalguns locais, o que faz com que se deva caminhar com mais cautela a fim de não resvalar. Envolvência agradável, pois pode-se ouvir a rebentação das ondas nos rochedos negros e apreciar algumas zonas onde apetecia estar de molho.

ainda dizem que não é possível ter estilo numa caminhada…

Isso foi possível um pouco mais à frente, na Fajã das Pontas, onde encontrámos um pequeno porto e ali, por esta ordem, saltámos para a água, comemos e descansámos.

Depois disto, voltámos para a Fajã da Penedia, onde o percurso nos conduz a uma valente subida até ao ponto de partida – Norte Pequeno.

PR09 SJO

Fajã dos Vimes – Portal

escadaria PR09

Para finalizar a saga dos percursos da fajã dos Vimes (esquecendo o PR02 que estava em obras), seguimos rumo ao Portal. Trata-se de um percurso que, e tendo por referencial o que podemos encontrar na ilha, é dos menos exigentes fisicamente falando, só tendo um desnível mais acentuado na zona da escadaria de pedra.

Percurso curto, que tem por pontos altos 2 estabelecimentos que vendem café da fajã, as respetivas plantações, vistas para o Pico, passagem pela Fajã da Fragueira e uma escadaria de pedra quase a finalizar.

Tendo um músico na comitiva, este tinha particular interesse por uma edificação da Fajã da Fragueira. São Jorge é conhecida pela produção de músicos de qualidade, sendo mesmo possível encontrar diversas casas filarmónicas espalhadas pela ilha. Um dos expoentes máximos dessa expressão musical pode ser encontrado no maestro Francisco de Lacerda, cuja obra extravasou em muito a ilha. E é com pena, isto apesar de podermos encontrar algumas homenagens no concelho, vermos que um dos locais onde o músico viveu durante alguns anos, está em ruínas. É estranho uma ilha onde o património histórico não abunda, não valorizar o que tem ou quando o tenta fazer, fá-lo de uma forma algo dúbia (exemplo mais flagrante será talvez o auditório municipal de Velas, contruído dentro do Forte de nossa Senhora da Conceição).

Fajã dos Vimes

Se a norma é, usualmente, termos um pedaço de terra mais plano que entra mar adentro, isto quando olhamos para a maior parte das outras fajãs da ilha, a dos Vimes difere por estar perfeitamente integrada na linha de costa da ilha e é abraçada por arribas que tornam este local dos mais chuvosos, coisa que coincidência ou não, pudemos atestar. Para além de ser ponto de passagem/cruzamento de trilhos pedestres, este é um local que nos parece obrigatório quanto mais não seja para ver as colchas, feitas e tecidas por artesãs locais, ou provar o café produzido na fajã, havendo dois spots para o fazer: o já afamado café Nunes e a Quinta do Café, tendo a nossa escolha recaído neste segundo que ficava mais à mão para quem faz o PR09 (que falaremos no próximo post) e, bom, em boa verdade, mesmo que não fosse, sendo nós do contra, teríamos escolhido este na mesma 😬.

Só podemos dizer que foi uma bela surpresa, muito aromático (e com um toque frutado e… ups, líquido errado). De referir que é também possível fazer visita às plantações e perceber todo o processo de fabrico, todo ele artesanal. Finalmente, a par com Gran Canaria, este é um dos únicos sítios na Europa que tem produção já com alguma tradição (primeiras plantações remontam ao século 19).

Feita a degustação e, como um dos panfletos de PR referia que o porto é um bom spot para refrescar, os nossos melgas resolveram dar uns mergulhos e.. hum.. bom, fotos falam por si 😁

PR03 SJO – parte 2

Troço entre Lourais (3º) – Fajã dos Vimes

ponte suspensa fajã dos cavaletes

Ahh, Lourais e os seus belos queijos.. Vá, foco!

Como tínhamos ficado por Lourais (3º, conforme identificado no mapa do PR), este foi o ponto de partida natural para a segunda e última etapa do PR03, junto à ermida de Nossa Senhora do Livramento. Se na primeira parte foi a subir, desta foi sempre a descer. Um início muito à semelhança do que tinha sido a parte final da primeira, com campos de cultivo a apresentarem um relevo cada vez mais em patamares e ribeiras com autênticos mini desfiladeiros, cascatas e quedas de água.

Dos percursos mais completos e bonitos que já fizemos. Completo porque tinha tudo: pouca afluência (somos capazes de nos termos cruzado com uma pessoa), bastante água com cascatas/quedas de água em vários pontos, muito verde e sombras, single track em quase toda a extensão, ponte suspensa e vistas lindíssimas para fajãs da ilha e o Pico.

Só não foi perfeito por causa da chuva, acabamos por ter de improvisar um sítio para almoçar, mas ei (!), se não fosse assim não seria Açores 😊

PR03 SJO – parte 1

Troço entre fajã de S. João e Lourais (3º)

ermida fajã São João

Aproveitando o facto de estarmos alojados na fajã, partimos do seu centro, onde encontramos a sua lindíssima ermida bem como o único estabelecimento de restauração (e os seus belos petiscos), em direção ao Porto da Panela.

Fomos apreciando as casas com alguns traços típicos, sendo o mais evidente as janelas de 3 folhas de correr sobrepostas (ou seja, correm na vertical!), algo que encontramos ainda com alguma abundância nesta fajã. Mais à frente, a praia da Baía da Areia, uma das poucas com areia na ilha (conseguimos encontrar 3 enquanto por lá andamos).

Segue-se a ponte sobre a ribeira de São João, de onde é possível adivinhar que a montante se encontra um desfiladeiro (havemos de escrever um post só sobre ribeira…), para de seguida começar o calvário, perdão, a subida, se bem que ainda de uma forma ligeira. Numa fase inicial é possível observar outra fajã, esta dizem que é “do Além”. Apesar do seu acesso já só ser aconselhável a viaturas com tração mais musculada e com um traçado em terra batida, algo comum em muitas fajãs, é possível observar pequenos socalcos em degraus ainda cultivados com tomateiros, abóboras, milho, inhames, vinhas, figueiras e algumas bananeiras. Aqui e ali, algumas pequenas casinhas de pedra.

Depois dos últimos socalcos cultivados, começa verdadeiramente a subida, mas as vistas… Bem, olhando para a esquerda, o mar e a ilha do pico, olhando para a direita uma parede de verde! Olhando para trás, a fajã de S. João. Sobe-se, sobe-se e continua-se a subir. A determinada altura, ouve-se o cantar de um milhar (nós contamos 😬) de melros ao desafio na mata …

E assim fomos até Lourais, não sem antes sermos surpreendidos por uma ribeira que em tempo de mais pluviosidade deve ali formar uma majestosa cascata: a ribeira do Salto.

De referir que é um dos muitos locais escolhidos para a prática de canyoning (1). Não satisfeitos, o Melga Júnior e o Turista ainda foram à procura do topo da queda (e encontraram!), enquanto que o resto da equipa deu meia volta, aproveitando para fazer uma paragem na praia e refrescar. Caso para dizer que soube a pato!


(1) Para quem conhece as Flores sabe que a ilha é um pequeno paraíso para a prática do Canyoning. Das pesquisas para estas férias, já sabíamos que muitos punham São Jorge em pé de igualdade com as Flores. Depois dos trilhos que fizemos, dos desfiladeiros que vimos (de uma beleza incrível e aparentemente intocados) e quedas de água imponentes, não ficam dúvidas do potencial da ilha para esta atividade. Só temos um senão, isto comparando com Flores: a qualidade da água. Pareceu-nos que muitos cursos acabam por sofrer da abundância de gado bovino na ilha…

“14 dias numa ilha?”

“Não morreste de tédio?!”

Em conversa com uma amiga sobre paragens de férias e a propósito do tempo passado em Santa Maria (2018), ela fez um comentário do género: “Tantos dias numa ilha tão pequena?! O que se faz num território tão limitado durante tantos dias? Não morreste de tédio?!”… O comentário ficou-me na memória e poderia aplicar-se relativamente aos dias que passámos em S. Jorge este ano. O que fizemos durante tantos dias nesta ilha escarpada e estreita, com tanto animal bovino nos prados (e estradas …), com tantas Fajãs, com tanto mar à sua volta, spots para mergulho, com tantos percursos pedestres, com iguarias tão suas, com tanta paisagem de pasmar, muitas com o Pico a fazer pose..?
Muito houve e haveria ainda por descobrir, a ideia foi mesmo tentar ver coisas que não aparecem nos roteiros e mesmo que apareçam, não picar só o ponto.
Com tanta coisa para partilhar, deparamo-nos com dúvidas quanto à melhor forma de organizar os temas. Acabamos por, ao invés dos posts passados, dividir não por dias, mas sim por experiências. Assim, vamos ter publicações mais focadas, a falar de:

1 – Percursos pedestres
2 – Sítios para dar uns mergulhos
3 – Miradouros e Fajãs
4 – Outras atividades: passeio de barco, kayak
5 – Alojamento/Gastronomia

Posto isto, a publicação que se segue irá incidir sobre o que nos tomou mais do nosso tempo: caminhar!

Graciosa à vista!

Ao encontro do dragão adormecido..

foto de https://discoverportugal2day.com/

Na viagem de ida para estes merecidos dias de férias (para quem os vai gozar, são-nos sempre 😬), ia escutando conversas soltas de outros que aguardavam o voo de escala para o destino final. No meio do ruído, o ouvido fixou-se numa conversa em que alguém referia: “bla bla bla … S. Jorge, um dia chega para dar a volta à ilha, não tem grande coisa para ver!” Que facada no peito… Como eu gostaria de me ter intrometido e dizer: “Permita-me discordar! …”. Não o fiz, tentei antes fazer o exercício de me colocar na pele deles e, em boa verdade, não fomos melhores, também fomos ingénuos há uns anos atrás quando reservámos apenas um dia e meio para ver esta ilha do grupo central (nesse ano estivemos nas 5, a fazer aquilo a que se pode chamar de farejar ou picar o ponto, ficando apenas numa estadia mais prolongada na ilha do Pico). Do que já vimos e ouvimos, diria que Faial e Corvo sofrem do mesmo preconceito, 1 dia chega…

Relativamente a São Jorge, em boa verdade, para quem não está para se chatear muito, a ilha terá pouco para oferecer, não diremos 1 dia, mas 3 chegarão para bater os pontos/circuitos mais turísticos e tirar algum partido dos mesmos. De referir que a isto ajudará o facto da mesma ainda estar relativamente pouco explorada, turisticamente falando.

Quanto aos interlocutores da conversa, desconfio que se os voltasse agora a ouvir, feito o tour de um dia, quase que apostaria num: “que pena não termos passado mais uns dias, não aproveitamos isto, não fizemos aquilo..” Pelo menos foi o que aconteceu connosco e nos fez voltar à ilha dragão a ver se, desta vez, somos capazes de absorver a ilha e tudo aquilo que ela nos queira proporcionar… Pelo menos uns quantos queijos foram, que o diga o Melga Junior…

Praia da Baía da Areia

Açores – São Jorge – Prefácio

2021 deveria ter sido a oportunidade de retomarmos o projeto que tinha ficado em águas de bacalhau, mas com o avançar do ano fomos percebendo que teríamos, muito provavelmente, uma reedição do ano anterior, isto se não tentássemos tomar as rédeas o quanto antes. Para quem gosta de viajar e tendo em conta o que temos tido oportunidade de ver de outros pares, há 2 possibilidades para quem não tem margem para grandes surpresas em tempos de pandemia: ou se marca tudo muito em cima do acontecimento o que, tendo em conta o cenário atual, pode dar origem a autênticos achados em alguns destinos, ou então se for para definir as coisas com algum tempo, então optar por um destino “seguro”. Visto os 2 seniores terem estado neste início de 2021 com novos projetos, com muitos ajustes à mistura, optamos pela opção que nos permitiria fazer as coisas com mais calma, sem grandes stresses.

São Miguel – Miradouro da Boca do Inferno

Quando começamos a voar para outras paragens, surgiu o boom do turismo nos Açores, que veio por arrasto à autorização de algumas low-costs poderem voar para São Miguel. Tendo em conta o nosso perfil, gostamos muito de ver patrimônio seja ele edificado pelo homem, seja natural, e querendo ver os Açores na sua forma mais genuína, ainda sem grandes alterações que o turismo de massa pudesse trazer, visitar as 9 ilhas o quanto antes foi durante uns anos a nossa prioridade. E assim foi, tínhamos fechado este capítulo há 2 anos com a nossa estadia em Santa Maria, onde palmilhamos literalmente toda a ilha (só utilizamos transportes públicos e táxi para fazermos ligação aos pontos de partida de PR´s e regressarmos ao local de pernoita).

Santa Maria – PR05 Costa Sul

Este masoquismo viajante surgiu um pouco por acidente, aquando da nossa estadia pelo grupo central, quando visitamos as 5 ilhas. Na altura, só tínhamos acautelado as viagens inter ilhas, fomos alugando viaturas muito em cima do momento e resolvendo eventuais falhas com táxis e autocarros. E podemos considerar que, tendo em conta a época alta, já com turistas, sim, mas sobretudo muitos emigrantes, as coisas até correram muito bem, isto até chegarmos à última ilha, Graciosa. Falhados os esforços de  arranjar uma viatura antecipadamente e dado a hora já tardia da nossa chegada para tentar in loco, restou-nos olhar para o mapa da ilha enquanto fazíamos a viagem de barco Terceira-Graciosa, e tentar delinear uma estratégia para aqueles quase 2 dias, aproveitando algo que já tinha sido pensado para o Faial como plano B: táxi se precisarmos, sempre que possível caminhamos, sendo o objetivo atravessar a ilha..

Graciosa – acesso ao caldeirão

Sendo a segunda menor ilha do arquipélago, acreditávamos que era um risco controlado.. E foi! Para quem conhece as nove ilhas, a afirmação que se segue poderá ser um choque, mas em boa verdade, a ilha que marcou verdadeiramente o Turista até hoje foi a Graciosa. É verdade que pode ter ajudado o facto de, pela primeira vez, termos tido facilidade em comer peixe, ou por termos ficado alojados perto das termas, com um fluxo de água de água quente para o mar, ou pela forma como se acede ao cone principal da ilha bem como à cavidade da furna do enxofre.. Muito ajudou para esta sua apreciação, mas em boa verdade o catalisador foi o facto de, pela primeira vez, este não ter conduzido, não sendo necessário estar todo o tempo atento à estrada, podendo os seus sentidos serem desviados para tudo o que o rodeava, de uma forma que não tinha acontecido nas outras.. Fruto desta experiência, Flores e Santa Maria já foram pensadas para tentarmos caminhar o máximo.

Flores – A “nossa” rica casinha..

Após a conclusão das 9, olhando para trás, tínhamos a sensação que 4 ilhas mereciam um regresso mais prolongado: Graciosa, Faial, Corvo e São Jorge. Se a esta lista acrescentarmos o facto de não termos íman desta última, a escolha para este ano só podia ser uma..

Terceira – “Cabemos todos ali?..”