Aldeia da Luz – Minas de São Domingos
Se há coisa que apreciamos do Alentejo é o pão! Já é praxe levarmos uns quantos para casa sempre que passamos pela região. Se a isto aliarmos aquele calor tão bom que sentimos logo pela manhã com o raiar do sol, estavam reunidas as condições para que o Turista fosse o primeiro a levantar-se e a sair da Bicha, em busca de uns belos pães alentejanos, aproveitando para deambular um pouco ao acaso pelas ruas da povoação. Nunca tínhamos estado nesta tão afamada aldeia. Tudo muito ordenado, a generalidade das construções respeitam o que é típico nesta região, sem grandes movimentações. Encontrada a padaria e feitas umas quantas aquisições, ainda teve a oportunidade de ir até a igreja de Senhora da Luz, reconstrução à imagem da original, onde encontrámos nas proximidades o museu da aldeia “antiga”, bem como o cemitério trasladado. Foi ainda possível avistar uns passadiços e a uma espécie de marina, que acabamos por visitar depois do pequeno almoço.
O percurso em si é relativamente curto, talvez dê 1km ida e volta, mas acabou por ter vários motivos de interesse que nos fizeram prolongar o passeio por mais tempo do que o normal para esta distância.
Tivemos a sorte de o percorrer sozinhos, cada um um pouco na sua, ora a olhar para as vacas, ora para os “fura olhos” (libélulas), ora para a paisagem onde avistávamos um casamento quase perfeito entre o Alentejo e o resultado da intervenção do homem, o espelho de água do Alqueva.
Seguindo viagem a sul, acabamos por delinear duas paragens antes do destino final, uma praia fluvial onde queríamos dar uns mergulhos com o calor ainda a apertar. Primeira paragem, Moura. Pequena cidade com uma malha urbana algo cerrada junto do seu núcleo, constituído por um castelo e convento em ruínas. Passeio agradável, algumas ruas singulares, muitas a fazerem pose para a foto e o conjunto museológico/castelo/convento, tudo muito arranjado, que só peca pelo convento não ter sido ainda alvo de intervenção com vista ao seu restauro.
Próximo destino, Serpa. A ligação do nosso Turista com esta localidade é já antiga. Foi ponto de passagem por 2 ocasiões deste até terras de Tavira, com pernoita em casa de colega de curso, este ainda era estudante. Como diria uma certa figura pública, fui muito feliz em Serpa.. 😎 Outros tempos, outras prioridades, de tal forma que ele até acabou por lá passar por 2 vezes e nem se lembra da cidade ter castelo ou muralhas.. Entretanto já enquanto casal, tivemos a oportunidade de visitar o núcleo urbano tendo batido com o nariz no portão de acesso ao castelo, que nos deixou com sede de voltar dada a singularidade do acesso ao monumento.
Um reflexo do tempo e ironia do destino, agora é a mai’ velha que tem uma amizade por terras serpenses, com a qual nos encontramos e nos brindou com uma visita guiada pela cidade. Tudo corria 5 estrelas, íamos deambulando pelas ruelas, tirando fotos e trocando impressões aqui e ali, aproximando-nos a passos largos do ponto alto desta paragem, quando viramos finalmente para o acesso e.. Bom, ainda não foi desta, uns tenrinhos esqueceram-se que era segunda-feira e o que acontece na maior parte dos monumentos nacionais às segundas? Estão fechados… Bom, chatice, lá teremos de voltar outra vez para tentar a sorte e levarmos mais uns queijinhos para casa..
Depois de agradecermos a hospitalidade, retomamos a estrada rumo à Mina de São Domingos, onde iriamos pernoitar. Pequena localidade que se desenvolveu em torno das minas ainda em tempos pré-romanos, até sensivelmente meados do século passado e que hoje acaba por viver de algum turismo, com potencial para muito mais. Um dos atrativos da localidade é a praia fluvial da Tapada Grande e era a grande motivação para tentarmos chegar não muito tarde ao local, de forma a aproveitarmos mais uma praia fluvial galardoada com bandeira azul. Gostamos, local agradável, boas infraestruturas e água razoável (tendo em conta altura do ano e quantidade de pessoas na água..).
Uma vez saciados na arte do chapinhar, tempo de calçar as sapatilhas e darmos um salto até ao complexo mineiro de São Domingos. Existem algumas placas no local mas com potencial para muito mais. Com mais algum tempo teríamos feito o antigo percurso férreo até ao Pomarão, de bicicleta, mas sendo ainda 20 km’s lineares (logo 40km’s no total), é algo para ser feito com alguma folga (para esta distância reservamos tipicamente pelo menos 3 horas). As minas em si prolongam-se por km’s, pois encontramos unidades espalhadas ao longo da linha, bem como zonas desprovidas de qualquer vida, cenários quase marcianos..
Há um misto de sensações ao visitá-las, à curiosidade em perceber como era feita a exploração e ver o que ainda existe edificado, acabamos por também ter uma amostra das consequências dos nossos atos, com impacto profundo em áreas de grandes proporções, onde nada cresce ou crateras onde se formam lagos cujas águas são ácidas. O pior é que o homem teima em não aprender.. Ainda há pouco tempo vimos um documentário na rtp3 que aconselhamos verem vivamente por abordar o outro lado das energias verdes (https://www.rtp.pt/play/p7804/e544035/o-lado-negro-das-energias-verdes). Todo o documentário nos dá uma outra visão, o reverso da medalha do que nos andam a vender como sendo verde, sendo os minutos 19-20 indiscritíveis.. Estaremos tão só a deslocalizar focos de poluição?
Viajar é isto, se é verdade que nos faz muitas vezes sonhar, é também verdade que servem para vermos coisas fora da caixa, que nos fazem pensar, crescer e até repensar as nossas prioridades..