Turistas à procura de cetáceos!

Há quem defenda que conhecido um local, só devemos lá voltar se tivermos deixado para trás algo que gostaríamos muito de fazer. No caso dos Açores, tínhamos 3: canyoning (Flores ou São Jorge), mergulho com mantas (Santa Maria) e observação de cetáceos (todas as ilhas, com destaque para o triângulo). Ainda estivemos indecisos entre a 1ª e a última, mas lá resolvemos deixar o canyoning para as Flores, parece-nos uma boa desculpa para lá voltar…

Observar os cetáceos que abundam pelo mar das ilhas era uma das experiências que ansiávamos desde a nossa primeira passagem pelo arquipélago. Decisão tomada, lá procurámos uma empresa do ramo (não são muitas em S. Jorge) e marcámos. Do outro lado do telefone, atendeu-nos o Miguel, da SeaExplorersAzores, com o qual combinámos todos os pormenores e no dia marcado, bem cedo, lá fomos ter com ele até à marina de Velas. Aqui, tivemos direito a um briefing onde recebemos alguma informação sobre as espécies que poderíamos encontrar durante o passeio e conhecemos a Rita, também ela da SeaExplorersAzores.

O Miguel e a Rita são ambos biólogos marinhos. A formação destes aliada ao facto de um deles ser natural da ilha, para além de um regalo para os sentidos, tornou este passeio num tempo formativo.

O barco, semirrígido, levou-nos primeiro num calmo passeio onde pudemos observar a zona costeira de Velas. Avistámos noutra perspetiva o famoso arco desta localidade e algumas espécies que habitam nas rochas. De seguida passeámos junto ao Morro e Baía Entre-Morros. Embalados pela suave ondulação, não fossemos nós começar a querer fechar a pestana, o Miguel acelerou e rumámos ao infinito e mais além (vá, andamos lá perto)… Fomos chatear cagarros! É incrível a quantidade de cagarros que boiam nas águas do mar alto. Questionámos muitas vezes por onde andariam durante o dia (porque à noite não tínhamos dúvidas, é um all nigth long nas zonas costeiras das ilhas!).

Fomos levados até à Baixa dos Rosais, local muito procurado por mergulhadores com experiência. Encontra-se a 3 milhas marítimas da Ponta dos Rosais. Esta Baixa é uma formação geológica em que o fundo é dominantemente constituído por camadas sobrepostas de escoadas lávicas de natureza basáltica onde surgem grandes fissuras e acentuados declives. A sua coroa, a cerca de 15 metros de profundidade, apresenta à sua volta uma abundância de diferentes espécies, muitas vezes organizados em cardumes, daí ser um local tão procurado.

Contrastando com o início da viagem, aqui o mar não estava meigo, ondulação já significativa e muito desordenada, mas ainda assim não impediu o Turista e o Melga Júnior que, após alguns conselhos do Miguel (que disse que quem manda é o mar), quiseram meter-se na água para ver o rochedo. E conseguiram, mas não estiveram por lá muito tempo. Dizem que valeu a pena irem apesar do respeito que este lhes incutia, que o contraste entre a anarquia aparente que viam à superfície desaparecia mal mergulharam a cabeça. Aquela imensidão, azul profundo e silêncio, onde no meio do nada foi possível avistar a tal ponta, com cardumes a polvilharem a tela aqui e ali, serenos, quase que em transe.

Depois desta agitada parte do passeio, o Miguel e Rita conduziram-nos durante algum tempo para mais longe da costa, para tentar ver os cetáceos, mas o mar não estava de feição, só os peixes voadores parecem gostar de tanta agitação 😊. Os cetáceos, esses, vendo o reboliço que estava à superfície ou então, souberam que estávamos à procura deles, deixaram-se estar a tomar um chazinho de algas, algures no fundo do mar. Quando embarcamos neste tipo de passeio, é preciso ter noção que nunca é garantido o avistamento, por muito que quem forneça os serviços possam perceber do assunto, ninguém conseguiu ainda estabelecer um contrato com as criaturas marinhas para virem dar um ar da sua graça. Foi o caso naquele dia, alguma desilusão, claro está, mas paciência… É a vida no mar!

De regresso para mais junto da costa de São Jorge, fomos ouvindo o Miguel a falar sobre as suas aventuras de rapaz, quando com os amigos explorava alguns locais. A dada altura, parou o barco, pediu-nos para colocar a máscara e saltou para a água, para nos acompanhar a um dos locais áquaticos mais bonitos onde já estivemos: uma espécie de algar/caverna, apenas acessível por mergulho. Como o sol estava a pique e existem uns buracos no teto da gruta, fomos presenteados com um cenário único, com os raios solares a furarem a água como se de colunas de luzes de tratasse! Um dos momentos altos do passeio e até mesmo das férias.

Dali partimos em direção a Velas, sempre junto à costa. Pelo caminho o Miguel foi-nos falando de outros locais de interesse, quasi não frequentados por turistas, que acabamos por explorar nos dias remanescentes…

‘Por mares nunca dantes navegados’…

Já é mais que sabido que a decisão de levar dois caiaques insufláveis não foi, de todo, consensual. Ideia do Turista, o mais arrojado, destemido e aventureiro (nota mental: melhor por-lhe um babete antes de ele ler isto…). Muito tempo antes da viagem, ele atirou o barro à parede… Disse-o em tom de brincadeira e ouviu logo uns quantos “Não! Estás doido!”… Ocupar espaço de bagagem com dois caiaques não estava a obter a concordância do resto do clã…

Depois de uma análise mais cuidada ao mapa da ilha e tentando perceber se conseguiríamos chegar à “foz” da ribeira de S. Tomé, onde o mapa indiciava haver todas as condições para uma queda para o mar, sem termos de remar horas a fio, o sim lá ganhou. Mesmo assim, a Viajante foi sempre um pouco incrédula, tal como S. Tomé, que só acreditou vendo.

A partida foi desde o Porto da Panela, na Fajã de S. João. Enchemos os caiaques, vestimos os coletes e aí fomos nós, quais descobridores destemidos, mar adentro. Deviam ser perto das 16h quando saímos… O mar, este, já o tínhamos visto mais calmo. O primeiro km foi feito com uma ondulação algo desordenada que, em mar aberto, mesmo que só a uma centena de metros da costa, é sempre algo que mete respeito. Se a esta agitação juntarmos o avançar das horas, ficava cada vez mais difícil ver o que ia por baixo da superfície, adensando o respeito que o mar nos merece, de tal forma de que o tal destemido que falei há pouco, andou mais para trás nos inícios, quase que a apalpar o mar…

A Fajã de S. João deu-se a conhecer numa nova perspetiva, também ela encantadora. Fomos remando, remando e remando até que, após contornarmos um pequeno cabo, avistámos ao longe a primeira queda de água a cair para o mar! Foi ver para crer! Á medida que nos aproximávamos, fomos percebendo que havia mais quedas, umas mais avantajadas que outras, mas todas, no seu conjunto, se apresentavam como se de um cenário num palco se tratasse e nós, na plateia, sozinhos, balançando com o badalar das ondas, num mar já mais ordenado e calmo…

Hora de voltar para trás, já com quase duas horas de “distância” desde que saímos do Porto da Panela. Tínhamos mesmo de regressar se queríamos chegar antes do anoitecer. Quase a chegar à Fajã de S. João avistámos um grupo de cabras do monte, que percorriam em fila os calhaus junto à costa. O mar este até parecia outro, muito mais calmo, o que nos permitiu admirar mais um pôr de sol, desta no meio do mar, onde as palavras paz e serenidade serão as que melhor descrevem a experiência…

Epílogo: Uns dias depois, não satisfeito, o Turista acabou por ir até a Fajã dos Vimes, desta sozinho…

PR 01 – Serra do Topo – Caldeira de Santo Cristo – fajã dos Cubres (10km linear)

É impossível começar a escrever sobre este PR sem deixar escapar uns suspiros. Este é sem dúvida, um dos mais agradáveis percursos pedestres da ilha de S. Jorge. E é também o mais procurado pelos turistas, o mais calcorreado de todos! Enquanto que nos outros trilhos, com sorte, encontramos uma ou duas pessoas, neste foram dezenas de pessoas, falantes de diversas línguas, uns mais preparados para o caminho que outros (sapatilhas brancas, do dia a dia, enlameadas ou ‘embosteadas’ – definição para sapatilhas com novos acabamentos, baseada numa mistura de lamas e poios bovinos). 

Para quem fica nesta ilha numa estadia muito breve, dois ou três dias, ou pouco mais, este percurso é imperdível, para chegar à Fajã de Santo Cristo e terminar na Fajã dos Cubres: dois postais de visita da ilha!

O trilho inicia na Serra do Topo, onde existe um parque de estacionamento com bastantes lugares que, dada a popularidade do PR, costumam ser parcos, por isso a regra é chegar cedo ou então estacionar na fajã dos Cubres que tem muito mais lugares e apanhar táxi para o Topo. Seguindo as indicações do trilho, que nos faz passar por zonas de pastagem, em que é necessário abrir e fechar portões de madeira para o gado não fugir, fomos descendo e observando aquela paisagem (acho que não a consigo descrever, mas ela está-me aqui bem cravada na memória).

Parando aqui e ali para as fotos da praxe com o gado que se está nas tintas para quem passa, porque há tanto verde para saborear, descemos até encontrar um pequeno desvio ao trilho, para observar uma cascata, que nomearam de Cascata Pequena. Ali foi um bom sítio para fazermos a pausa café da manhã, com o rumor das águas que caíam do alto da cascata… Saímos dali para continuar a caminhada, pois entretanto chegou uma família numerosa (das sapatilhas brancas…) e era necessário dar-lhes espaço para apreciarem aquele espaço.

Ainda nos cruzamos com mais um amigo de quatro patas com crina, já começa a ser praxe por estas bandas, e, para não variar, lá encetamos contactos.

Continuando, encontramos um local de onde podemos avistar a caldeira de Santo Cristo, como quem avista o tal ambicionado troféu!

Com forças redobradas, rapidamente descemos até à Fajã, que, na entrada, nos faz percorrer um carreiro/caminho entre muros de pedra negra carregados de aloés. Este leva-nos até ao Santuário do Senhor do Santo Cristo.

Ali fizemos um pequeno desvio e prosseguimos pela zona de calhaus rolados, para ver o mar e ao mesmo tempo a vista sobre a Fajã e Lagoa. É nesta que crescem as afamadas amêijoas da Caldeira de Santo Cristo, pitéu que todo o turista espera (e deve!) provar quando vem à ilha. 

Hora de refrescar o corpo nas águas da lagoa, uma experiência que recomendamos (uso de sapatos de água altamente recomendável). Ali nos mantivemos por um bom bocado e almoçámos. E as ameijoas?! Não as provaram? – perguntam vocês… Já tínhamos provado em 2016. É um pitéu dispendioso e em boa verdade, as que estavam nos restaurantes naquela altura eram congeladas visto termos estado em pleno período de defeso da apanha … Por isso, guardamos o dinheiro para outras aventuras.

Como o trilho continua até à Fajã dos Cubres, lá tivemos de deixar aquele postal e retomar o caminho.

não sem antes atiçarem uma fera contra o Turista… Bobby, ataca!

O trajeto entre a Fajã de Santo Cristo e a Fajã dos Cubres, com a Fajã do Belo pelo meio, é partilhado com os veículos de 4 rodas, vulgo moto4, que circulam para servir de táxi aos impossibilitados de percorrer o caminho a pé (se bem que alguns/muitos mais pareciam padecer de preguiça…). Como o caminho é muito estreito, foram diversas as vezes que o povo caminhante teve de se empoleirar onde era possível, para deixar passar tais veículos. Depois de passar a Fajã do Belo, a nossa visão consegue já alcançar parte da Fajã dos Cubres, outro local que não fica nada atrás da Fajã de Santo Cristo em termos de beleza.

Mesmo à entrada da Fajã dos Cubres, existe um grande parque de estacionamento onde se encontram alguns táxis, para quem não quiser prosseguir. Nós prosseguimos, visitando a parte das lagoas (nestas é proibido tomar banho) e depois para o centro da localidade, onde junto à igreja, se encontram alguns cafés/roulotes e uma fila ordenada de táxis que aguardam a chegada dos turistas que precisem de ser transportados até ao parque eólico. A viagem custou pouco mais de 20€ e demorou cerca de 20 minutos.

PRC 06 SJO

Norte Pequeno – Rota circular (10,8km)

Graciosa à vista 💖

Com as mochilas abastecidas de mantimentos e água, rumámos até Norte Pequeno, local de partida para o percurso de hoje. A parte inicial faz-nos passar pelo povoado e depois por terras onde as vacas, cavalos e cabras tomam as suas refeições de pasto, com vista para a ilha Graciosa.

A descida começa a fazer-se sentir cada vez mais acentuada até à Fajã do Mero, tão acentuada que deu origem a um monumental malho da viajante, que mesmo com o auxílio dos bastões, conseguiu tal proeza… No meio de tanta verdura, fomos descendo cuidadosamente o trilho aos ziguezagues até encontrar as primeiras habitações da Fajã do Mero.

Nesta Fajã podemos encontrar um exemplar bem conservado de uma habitação tradicional.

casa típica – uma espécie de Santana (Madeira) à moda de São Jorge

Depois de passar alguns minutos a observar esta Fajã com nome peixe, continuamos a caminhada em direção à Fajã da Penedia. Aqui encontramos uma estrada de terra vermelha, algumas habitações e uma ermida.

Prosseguindo o trilho, fomos em direção à Fajã das Pontas. O troço é feito por uma zona mais junto ao mar, com piso de pedra solta nalguns locais, o que faz com que se deva caminhar com mais cautela a fim de não resvalar. Envolvência agradável, pois pode-se ouvir a rebentação das ondas nos rochedos negros e apreciar algumas zonas onde apetecia estar de molho.

ainda dizem que não é possível ter estilo numa caminhada…

Isso foi possível um pouco mais à frente, na Fajã das Pontas, onde encontrámos um pequeno porto e ali, por esta ordem, saltámos para a água, comemos e descansámos.

Depois disto, voltámos para a Fajã da Penedia, onde o percurso nos conduz a uma valente subida até ao ponto de partida – Norte Pequeno.

“14 dias numa ilha?”

“Não morreste de tédio?!”

Em conversa com uma amiga sobre paragens de férias e a propósito do tempo passado em Santa Maria (2018), ela fez um comentário do género: “Tantos dias numa ilha tão pequena?! O que se faz num território tão limitado durante tantos dias? Não morreste de tédio?!”… O comentário ficou-me na memória e poderia aplicar-se relativamente aos dias que passámos em S. Jorge este ano. O que fizemos durante tantos dias nesta ilha escarpada e estreita, com tanto animal bovino nos prados (e estradas …), com tantas Fajãs, com tanto mar à sua volta, spots para mergulho, com tantos percursos pedestres, com iguarias tão suas, com tanta paisagem de pasmar, muitas com o Pico a fazer pose..?
Muito houve e haveria ainda por descobrir, a ideia foi mesmo tentar ver coisas que não aparecem nos roteiros e mesmo que apareçam, não picar só o ponto.
Com tanta coisa para partilhar, deparamo-nos com dúvidas quanto à melhor forma de organizar os temas. Acabamos por, ao invés dos posts passados, dividir não por dias, mas sim por experiências. Assim, vamos ter publicações mais focadas, a falar de:

1 – Percursos pedestres
2 – Sítios para dar uns mergulhos
3 – Miradouros e Fajãs
4 – Outras atividades: passeio de barco, kayak
5 – Alojamento/Gastronomia

Posto isto, a publicação que se segue irá incidir sobre o que nos tomou mais do nosso tempo: caminhar!

Graciosa à vista!

Ao encontro do dragão adormecido..

foto de https://discoverportugal2day.com/

Na viagem de ida para estes merecidos dias de férias (para quem os vai gozar, são-nos sempre 😬), ia escutando conversas soltas de outros que aguardavam o voo de escala para o destino final. No meio do ruído, o ouvido fixou-se numa conversa em que alguém referia: “bla bla bla … S. Jorge, um dia chega para dar a volta à ilha, não tem grande coisa para ver!” Que facada no peito… Como eu gostaria de me ter intrometido e dizer: “Permita-me discordar! …”. Não o fiz, tentei antes fazer o exercício de me colocar na pele deles e, em boa verdade, não fomos melhores, também fomos ingénuos há uns anos atrás quando reservámos apenas um dia e meio para ver esta ilha do grupo central (nesse ano estivemos nas 5, a fazer aquilo a que se pode chamar de farejar ou picar o ponto, ficando apenas numa estadia mais prolongada na ilha do Pico). Do que já vimos e ouvimos, diria que Faial e Corvo sofrem do mesmo preconceito, 1 dia chega…

Relativamente a São Jorge, em boa verdade, para quem não está para se chatear muito, a ilha terá pouco para oferecer, não diremos 1 dia, mas 3 chegarão para bater os pontos/circuitos mais turísticos e tirar algum partido dos mesmos. De referir que a isto ajudará o facto da mesma ainda estar relativamente pouco explorada, turisticamente falando.

Quanto aos interlocutores da conversa, desconfio que se os voltasse agora a ouvir, feito o tour de um dia, quase que apostaria num: “que pena não termos passado mais uns dias, não aproveitamos isto, não fizemos aquilo..” Pelo menos foi o que aconteceu connosco e nos fez voltar à ilha dragão a ver se, desta vez, somos capazes de absorver a ilha e tudo aquilo que ela nos queira proporcionar… Pelo menos uns quantos queijos foram, que o diga o Melga Junior…

Praia da Baía da Areia

Road Trip verão 2020 – dia 14

Vila Nova Santo André – Ericeira

A nossa pernoita foi em Vila Nova de Santo André, numa área que uma cadeia de supermercados acabada em “marché” disponibiliza aos autocaravanistas. O espaço, junto de uma bomba de gasolina e nas imediações do dito supermercado, não é dos mais encantadores, mas serve perfeitamente para uma noite e para os objetivos que tínhamos para o dia seguinte. Serviço de despejo de águas sujas, abastecimento de água limpa, tudo ok! Limpeza do espaço… pouca, provavelmente resultado do pouco brio de alguns autocaravanistas, coisa que por aqui e noutros sítios tivemos o desprazer de presenciar. O bom de acordar ao lado de um supermercado é que temos possibilidade de ir comprar pão fresco logo pela manhã!

Saindo deste local, fomos aproveitar para conhecer a praia junto à lagoa de Santo André, onde nunca tínhamos estado antes. Não foi, na nossa opinião, nada de muito surpreendente. É certo que não nos alongámos muito na visita: demos apenas um pequeno passeio junto da parte da lagoa e aproveitamos para dar um mergulho no mar.

Seguimos rumo a outras paragens. Fomos para a zona costeira do parque-natural de Sintra-Cascais. A nossa primeira paragem por estas bandas foi em Azenhas do Mar. Depois de algumas voltinhas para tentar encontrar um espaço onde estacionar a bicha, fomos apreciar a vista panorâmica que é a mais instagramável de todas: a vista sobre a
vila de Azenhas do mar e a sua piscina de água salgada.

Continuamos depois a nossa viagem rumo ao norte, parando na praia de Magoito onde por ali ficamos a fazer um pouco de praia. Esta, com alguma rocha a mistura, faz-nos um pouco lembrar algumas que tanto apreciamos mais a sul…

Voltando outra vez à estrada, fomos em direção à Ericeira, onde decidimos fazer a última pernoita desta road trip. Esta foi numa nova área de serviço para autocaravanas, no parque intermodal da Ericeira. Depois de jantar, decidimos ir à procura de gelados artesanais, como que em jeito de desforra de último dia de férias… Descemos então em direção à zona piscatória da Ericeira, a parte mais turística e percorremos as ruas (cheias de gente destemida e sem máscara) onde por fim, encontramos a dita gelataria.

E assim termina o nosso périplo, feito com muito improviso fruto da situação pandémica em que nos encontrávamos. Uma experiência diferente da que estávamos acostumados, que serviu para conhecer novos locais bem como reviver outros que nos tinham deixado saudades. Não é de todo comparável a roadtrip que tínhamos agendada para o verão de 2020 por terras canadenses, mas não deixa de ter sido mais uma aventura com os 4 e quanto a isso, não há destino capaz de bater este todo…

Road Trip verão 2020 – dia 12

Ainda por terras de Aljezur…

Ora se ontem, que esteve praticamente todo o dia nublado, resolvemos ficar numa só praia o dia todo, hoje, que está aquele sol que até faz estalar as ervas nos campos, vamos obviamente pegar nas bicicletas e limitar-nos a… fazer um périplo por diversas praias da região! 😬

A primeira etapa foi entre o Parque de Campismo e a praia de Monte Clérigo (9,8km). Percurso interessante, numa primeira parte em terra batida, tendo a municipal 1003-1 dado seguimento. Até a referida estrada, pudemos ir contemplando a vista para o vale da Ribeira de Aljezur. Assim que avistámos a praia de Monte Clérigo, parámos para as fotos da praxe e descemos até à praia onde aproveitamos para refrescar os engenhos de locomoção (aka nós) no mar…

Já fresquinhos que nem umas alfaces, marcamos mesa no restaurante “O Sargo”, que a Viajante e o Turista já conheciam e quiseram repetir a experiência e, por volta das 12h, já estávamos sentados para fazer o nosso pedido. Comida interessante, único senão foi esta ter sido considerada pouca para alguns do grupo… não querendo avançar com nomes, nomeadamente do Melga Júnior que, com fome, é capaz de, perdoai-nos a expressão, “comer um boi”!

Almoçados, hora de nos pormos a caminho. E que caminho… É incrível como por vezes acreditamos conhecer uma região e mesmo assim, esta acaba por conseguir surpreender-nos com pequenos tesouros escondidos. A verdade é que a zona entre Monte Clérigo e Arrifana sempre foi lugar por onde não nos aventuramos muito, talvez por estarmos presos ao comodismo do carro. Percorremos o caminho de terra batida entre Monte Clérigo em direção às praias da Coelha e Fateixa, até o caminho terminar (3,4km). Havia então um acesso que dava para a Praia da Coelha, que apresenta algum grau de dificuldade para quem vai simplesmente carregado com a sua própria toalha, pelo que estando nós com bicicletas resolvemos pegar nelas e… descer… (crazy elephants!)

Depois de requisitados uns quantos estudos sobre a melhor forma de proceder à descida, foi dada a instrução para avançarmos. À medida que íamos descendo, crescia a preocupação, ao verificarmos o ar de espanto dos que por nós passavam, levando-nos a questionar se não haveria algum problema mais à frente ou até na praia… Depois de alguma ginástica e passar de bicicletas de mão em mão, lá chegamos ao areal. Tudo normal, o que nos levou a concluir que as pessoas pelas quais passamos deviam ser só estranhas… 😅

Para aliviar o stress, encostámos as bicicletas a uns pedregulhos e fomos fazer o reconhecimento da praia, ora indo a banhos, ora apreciando o trabalho da Mãe Natureza.

O Turista, sempre alerta e com o seu faro apuradíssimo no que toca ao planeamento de trajetos, depois de molhar a ponta do dedo mindinho e verificar se o vento soprava de feição, teceu a teoria que, lá no fundo do areal, haveria outro acesso para subir e estaríamos assim já não muito longe da praia da Arrifana. Confiantes, ali fomos em cima das bicicletas junto ao mar (mais um check na nossa lista de coisas a fazer pelos menos uma vez na vida) e andamos, andamos, andamos…

E à medida que íamos andando, o semblante do Turista ía, curiosamente, ficando menos confiante…  Resultado: Não havia acesso nenhum! Apenas umas paredes de pedra intransponíveis, pelo que acabamos por regressar pelo mesmo caminho. Arrependidos por termos seguido o “teorias” do grupo? Nah, pelo contrário, esta é daquelas experiências que nos vêm logo a memória quando recordamos determinados contextos. Neste caso, sempre que pensamos nesta roadtrip ou em paz ou serenidade, vem-nos logo a memória aqueles minutos a andar de bicicleta em cima de areia molhada em praias quase desertas…

De volta à estrada, agora em direção à praia da Arrifana (10,8km), seguimos já um pouco cansados e esfomeados… A praia estava com bastante afluência, mas conseguimos um spot para estendermos as toalhas e lá fomos a banhos. Estranhamente, o nosso patinho de água (Melga Sénior) quis ficar na toalha porque se sentia esgotada! Tenrinha… Mas nada que uma mega tosta mista com pão alentejano não fosse capaz de resolver! Arrifana é um poço cheio de recordações. Foi a primeira praia da Melga Sénior, foi aqui a única tentativa, até hoje, do Turista em fazer surf (diz que teve pouco sucesso pois o mar estava flat e que o fato era uns números abaixo do dele – #dieta? – prendendo-lhe os movimentos… Foi aqui que também apanhamos das maiores ondas onde, apesar destas terem já com alguns metros de altura, ainda era possível mergulhar com um sentimento de segurança, tal não era a forma ordenada em como estas vinham, algo que caracteriza normalmente o mar desta baía.

Já com o Sol no horizonte, hora de regressar ao ponto de partida. Como ficamos até a última na praia e para não ficarmos sem luz natural, optamos pela estrada nacional até Aljezur e dali até ao parque de campismo (13,4km). Esta última parte já foi feita um pouco a custo, porque andar em estradas que não têm berma para a circulação (e com pesados a passarem a velocidades aparentemente excessivas), é um fator de stress para a Viajante, que prefere estradas de pó a asfalto. Algo que o munícipe de Aljezur deveria talvez rever, até para reforçar a aposta num turismo que se adeque a zona protegida na qual se insere.

Road trip verão 2020 – dia 11

Aljezur

Dia de ficar… Os dias anteriores foram de movimento constante. A Bicha, coitada, também precisava de repousar. E nós também…

Há muitos anos que não nos deslocávamos os quatro para o concelho de Aljezur. E desta vez, tínhamos uma vantagem sobre outras estadias: as bicicletas. Andar de carro é sinónimo de chegar mais rápido, mas priva-nos de muitas sensações… Dos aromas, do ar fresco a bater na cara, dos sons diversos da natureza. A partir do Parque de Campismo do Serrão, existem diversos caminhos de terra batida que nos levam a diversas paragens balneares. Hoje decidimos ir de bicicleta até à praia da Carreagem.

Ainda somos do tempo em que o acesso desta tão formosa praia era feito por um carreiro mal-amanhado e íngreme. Coisa para fazer desistir os mais comodistas… Hoje em dia, não é preciso desistir! Foi construído um passadiço de, como diria o Turista, cenas, que permite descer até à praia sem sobressaltos. Mas cuidado, o passadiço estava a precisar de manutenção! Aqui e acolá, existia uma falha ou outra, faltando tábuas em degraus… o que levou a que o sr. Turista, que estava em modo fotógrafo, com um olho sempre encostado ao visor, tivesse feito um ferimento nada simpático numa das suas canelas, de cima a abaixo… Depois de uns valentes minutos a praguejar e dos litros (diz ele) de sangue que jorraram mar dentro, o Turista lá se recompôs e voltou ao modo anterior, quase que a desafiar novamente a sua sorte…

As imagens falam por si. Não vale a pena descrever muito, porque este é um local em que se podem passar horas infinitas só a saborear… E a fazer “piscinas”, procurar estrelas do mar, brincar parvamente, como no tempo dos “mai’novos”. E neste dia, foi “só” o que fizemos!

E com o passar do dia, o sol foi espreitando, espreitando, espreitando até que…

Road trip verão 2020 – Dia 6

Praia O Moínho – Mação

Como os últimos dias foram de pacatez e moleza, com relativos poucos quilómetros percorridos por dia, e como tínhamos semi-planeado uma minivolta a Portugal, era tempo de dar corda às sapatilhas e fazer-nos à estrada como se não houvesse amanhã. É caso para dizer que o sexto dia foi puxadinho..
Saímos de Benquerença em direção a Castelo Novo, onde queríamos visitar a zona histórica e aproveitar para molhar os pés na praia fluvial. Estacionámos a bicha próximo da praia fluvial de Castelo Novo e subimos a pé até à zona histórica. O dia estava bastante quente. Aspeto interessante é que a localidade tem inúmeras bicas fartas de água fresca e cristalina, não estivéssemos nós em terra das conhecidas Águas do Alardo. Subimos até à zona do castelo apreciando as ruas e casas de pedra.

Junto ao castelo, entrámos no posto de turismo e ouvimos uma breve descrição do que visitar, aproveitando também para comprar o íman da praxe e vinho da região (que, no decorrer deste périplo, acabou por ser também da praxe..). Do castelo, avista-se a planície que vai até à não muito longínqua aldeia de Monsanto, empoleirada no seu monte.

Depois do castelo fomos espreitar uma antiquíssima raridade, anterior aos tempos da Maria Cachucha: a “Lagareta”, que foi utilizada como lagar de vinho por sucessivas gerações de castelo-novenses.

Depois deste passeio, a praia fluvial esperava-nos: água ultra-límpida, temperatura agradável, frescura garantida num dia de calor! Soube a pato..

Rodas na estrada, fomos em direção à praia fluvial de Lavacolhos, localidade que dá nome à praia. Já na localidade, tivemos mais uma daquelas sensações de “estamos a meter-nos num 31..” patrocinado pela bicha, quando vimos a estrada de acesso à praia. Tempo de fazer um reconhecimento a pé e lá percebemos que o estreitamento era só numa parte diminuta e que o declive era aceitável, pelo que pudemos ir com ela até às margens da ribeira da Gardunha. A praia e zona de lazer envolvente são bem cuidadas e prazerosas.

Picámos o ponto, dando um mergulho no rio e lá continuámos a nossa viagem em direção a Orvalho, concelho de Oleiros, onde pretendíamos fazer uma pequena parte do percurso pedestre dos passadiços, para ver a cascata da Fraga de Água D’Alta. Estacionámos junto ao acesso da escadaria do passadiço e por ali ficamos o tempo suficiente para testar a água e tomar um duche debaixo dos pingos de água que caíam do alto. Uma nota relativamente ao percurso, daquilo que tivemos oportunidade de ver, trata-se de um trajeto bastante sinuoso e com muitas escadarias ao longo do mesmo, se voltarmos para o fazer na totalidade, será concerteza no outono ou primavera, com tempo ameno.

A nossa intenção era pernoitar junto da praia fluvial de Cardigos, no concelho de Mação, mas.. A praia em si.. Tão bom, tão bom que nem fotos! Contextualizando, estamos a falar numa das praias mais badaladas da região, tendo encontrado, no decorrer das pesquisas, muitos comentários de excelência. Íamos com expetativas muito altas. A realidade: piscina de fundo azul, que faz aproveitamento da água de uma pequena ribeira. Nem sequer deu para poder apreciar a zona de lazer, nem parecia estarmos em tempo de pandemia.. Apesar da vontade ser de fugir dali depressa, tivemos de fazer o teste à água e, pois bem, já vimos piscinas com menos cloro.. Poucos minutos de refresco chegaram. Fomos para a bicha pensar na nossa vida! Já era tarde e tínhamos de decidir onde ficar a dormir. Uma vez que fomos avisados por um local que a polícia andava a multar a malta das vans e autocaravanas que optava por pernoitar ali, fomos para a área de serviço de autocaravanas de Mação. O local é um amplo espaço de estacionamento junto aos bombeiros e GNR, não sendo dos espaços mais agradáveis, tendo a seu favor o facto de dispor de eletricidade gratuita para duas caravanas.. Inicialmente sozinhos, lá chegaram mais duas autocaravanas. Ainda deu para um parlapié com um casal com dois filhos ainda em tenra idade, ficando a saber que andavam a fazer uma roadtrip pelas praias fluviais da zona centro do país.

praia fluvial – Castelo Novo

Road trip verão 2020 – Dia 5

Praia fluvial de Valhelhas – Praia fluvial o Moínho

Se no dia anterior apenas tomámos um banho rápido no rio Côa, hoje os banhos foram para ir saboreando lenta, lentamente, pela praia fluvial de Valhelhas. Tendo ainda relativamente poucos km’s de curso, o rio Zêzere brindou-nos com uma água fresca (mas tipo, mesmo fresca!) e límpida, como em poucos sítios é possível encontrar. O senhor “muita fo’te” foi logo cedinho testar a temperatura da água, enquanto o rio podia ser só dele. Acabámos por passar a manhã na preguiça, ora absorvendo vitamina D, ora pondo o corpo vitaminado de molho, volta e meia, meia volta!

Ahh, que bem que se estava (..) até surgir um enxame dos colchões insufláveis, malas térmicas (que saudade dos belos tachos e garrafões de 5 litros..) e dos sempre tão respeitadores das boas práticas em tempo de pandemia. Valhelhas é de facto uma belíssima praia fluvial que sofre, à semelhança do muito que temos de bom, do turismo de massa em Agosto. Foi aí que percebemos que era melhor tratar da vida e, depois do almoço, fomos em preguiçosa viagem até outra praia fluvial, “O Moínho”.

A viagem não é longa! – disse a copiloto, para os jovens que já reclamavam mais horas de banho – É já ali!

Estava tudo a correr bem, dirigindo-nos para Benquerença, localidade pertencente ao concelho de Penamacor, onde se situa a referida praia. Até que, começámos a avistar uma fumaça bem negra, cada vez mais próxima. “É impressão minha ou estamos mesmo a dirigir-nos para a zona do incêndio?” – pergunta a copiloto. Poucos metros à frente, a GNR a ordenar parar. Ou aguardávamos que o fogo acalmasse, ou estudávamos um caminho alternativo. E o Muita fo’te destemido, com auxilio do smartcenas, estudou a tal alternativa, que nos deu mais um daqueles momentos patrocinados pela bicha (há quem jure que foram uns 12 km’s de preces..).

Mas lá chegámos à praia Fluvial “O Moínho”, que estava com uma ocupação razoável. A água tinha um aspeto turvo o que, para quem tinha estado de manhã em águas translúcidas, teve um primeiro impacto negativo, mas lá conseguimos vislumbrar que era apenas do remexer do fundo. O local é aprazível, relva verdinha, árvores grandes que proporcionam boa sombra.

Como chegámos a meio da tarde, bons lugares para estacionar a bicha não existiam, mas resolvemos desenrascar a coisa para tentarmos aproveitar o resto da tarde e lá mais para o final, lá conseguimos mudá-la para um spot à beira rio. O local tem condições para fazer despejos de águas sujas, água potável e casas de banho, em contrapartida não existiam chuveiros nem eletricidade. Não fosse a existência de um café do outro lado do rio, frequentado até altas horas da madrugada, a noite teria sido muito boa.