Em jeito de conclusão, não queríamos encerrar o capítulo São Jorge sem antes fazer uma referência especial a um dos alojamentos: A casa do Avô Coelho. Dos muitos sítios por onde já tivemos a sorte de pernoitar, este foi sem dúvida dos que mais nos surpreendeu.
Trata-se de uma pequena adega recuperada pelos atuais proprietários, casa muito coquette, ideal para um casal mas que se adaptou perfeitamente aos 4, onde nos proporcionaram um acolhimento 5 estrelas, anfitriões sempre presentes quando preciso, isto respeitando sempre o nosso espaço, vizinhos super prestáveis, que até nos forneceram hortaliças e peixe (legumes frescos e mesmo peixe nos supermercados das ilhas nem sempre são fáceis de encontrar), porto/praia para darmos uns mergulhos a uns 5 minutos a pé, churrasqueira, que usámos e abusámos, e um terraço.. Fomos espectadores privilegiados dos melhores pores de sol que já tivemos a oportunidade de vivenciar. Esta casa e mesmo a fajã na qual se encontra, a de São João, acabaram por ser em muito responsáveis pelas boas recordações e já alguma saudade que temos desta viagem.
making of de mais um..
A segunda estadia, já para os lados de Velas, tinha tudo para ser igual ou até superior à primeira: localização, casa muito espaçosa, vista para o Pico e pores de sol ainda mais tchanan, comentários no booking com rasgados elogios aos anfitriões, piscina com um cenário brutal, enfim, a nossa expectativa era que fosse a cereja no topo do bolo, só que não.. Um caso típico onde a embalagem é definitivamente melhor que o conteúdo.. Ficam algumas fotos do bom que o alojamento tem, mas que ficou muito a dever à experiência anterior.
A beleza de São Jorge é acima de tudo paisagística, havendo poucos apontamentos de ordem arquitetónica com valor patrimonial na ilha (e mesmo os existentes nem sempre tiveram intervenções que nos pareceram felizes). Não havendo na trupe ninguém que seja um guru no que toca a monumentos, estilos e afins, não deixamos de ter interesse e gosto em visitar tudo o que possa ter história, costumes e cultura associados. É por isso que a visita à igreja de Santa Bárbara, em Manadas, foi vivenciada como se de um bálsamo se tratasse. Antes de mais, à chegada somos presenteados com os restos de um pequeno forte que se apresenta como uma espécie de varanda para?.. O Pico, pois claro! Após tiradas umas quantas fotos candidatas a postais, tempo de nos concentrar no tema desta paragem.
Para quem chega e olha para a igreja de Manadas, diria que é mais uma, visto o seu exterior apresentar linhas simples, de aspeto cuidado, sem grandes ornamentos. No entanto, toda esta aparente modéstia serve apenas de catalisador para o momento em que entramos. O seu interior.. É uma pequena joia, um concentrado de arte religiosa na forma de painéis de azulejo, retábulos e afins. Não é por isso de estranhar que por lá tenhamos ficado uma larga dezena de minutos, saltitando de pormenor em pormenor..
Dia de descanso dos percursos! E para “desenjoar” um pouco dos trilhos marcados da ilha, nada melhor do que ficar por perto e explorar o local onde estávamos alojados. Em conversa com locais, já tínhamos ficado com a pulga atrás da orelha acerca de um poço + queda de água que se encontram a montante da ribeira que desagua nos limites da fajã. Se a isto acrescentarmos o facto das águas desta serem cristalinas, estava feito o convite, pelo que, neste dia de repouso, nada melhor do que fazer nova caminhada.. 🤦🏻♂️😂
Revelou ser uma boa aposta, o trilho acabou por ser o leito da ribeira, onde fomos saltando de pedra em pedra.
A progressão é feita ribeira acima, estando esta na base de um mini desfiladeiro, com autênticas paredes a balizar o seu leito em alguns pontos, pequenas quedas de quando em quando, até conseguirmos avistar finalmente uma queda de água e o seu poço.
Pelo meio, alguém (aka Viajante) aproveitou para arranjar algum material de marketing.. 😁
#tupperware ?
Moral da história, estivemos por lá toda a manhã, numa piscina natural só nossa onde, numa das paredes, existiam fios de água a cair, a fazer lembrar um pouco as 25 fontes, na Madeira. Não fosse não termos levado o almoço, provavelmente teríamos por lá ficado o dia todo..
“25 fontes” à moda de São Jorgefajã de São João (fonte: google maps)
A opção de fazermos troços de Grandes Rotas para complementar os PRs já existentes não é novidade, já assim foi em Santa Maria e Flores. Se há coisa que sabemos (ou deveríamos saber..) há muito, é da importância de estudarmos o percurso, sendo a tarefa facilitada se tivermos o panfleto dos mesmos, que reúne um concentrado de informação. No caso deste troço que, dada a extensão e sendo linear, nos obrigaria sempre a termos de utilizar um meio complementar de locomoção, neste caso um táxi, deveríamos ter sido mais criteriosos quanto ao ponto de partida. À semelhança do que aconteceu para outros percursos, estando “sediados” na fajã de São João, não nos quisemos chatear logo cedo com transportes e iniciamos a partir dali. Ora, voltando um pouco atrás, para a tal história de prepararmos e termos um concentrado de informação no panfleto dos percursos, pois bem, há lá um dado que era particularmente importante no que toca ao que íamos fazer neste dia: a topografia! Moral da história, foram uns 450m de acumulado positivo logo no primeiro Km.. 🙄
Resultado, fotos só depois do primeiro km! 😂
Tirando a parte do acesso à fajã do Cardoso (o tal que “escalamos”), este troço do percurso é sobretudo caracterizado por caminhos agrícolas, em terra batida, que nos proporcionam belas vistas para o mar aberto (já é preciso fazer um esforço para conseguirmos ver a ilha do Pico).
Também nos cruzamos por mais uns cursos de água, mas nenhum deles com a qualidade/aspeto da ribeira da São João. Fizemos uma pequena paragem num deles, que formava um pequeno poço, onde o único maluco, perdão, corajoso foi o Turista. Ainda tentou desencaminhar outros a darem um mergulho, com o argumento que o fenómeno da água mais turva seria como no poço do bacalhau, nas Flores, mas sem sucesso.. Mesmo o próprio saiu de lá pouco convencido e a rezar para que não lhe nascesse nenhum braço no meio da testa..
Retomando caminho e já com a barriga a apertar, foi ainda possível conviver um pouco com outro animal de 4 patas, que se encontra com alguma facilidade na ilha, o cavalo.
Acabamos por chamar um táxi e fomos almoçar a casa. Não obstante, já mais para o final de uma tarde farrusca, com alguma chuva à mistura, demos um salto até à Vila do Topo para “acabar” o trilho e deambularmos um pouco pela localidade.
Para finalizar a saga dos percursos da fajã dos Vimes (esquecendo o PR02 que estava em obras), seguimos rumo ao Portal. Trata-se de um percurso que, e tendo por referencial o que podemos encontrar na ilha, é dos menos exigentes fisicamente falando, só tendo um desnível mais acentuado na zona da escadaria de pedra.
trilhos pouco frequentados – uma quasi constante durante a nossa estadia
Percurso curto, que tem por pontos altos 2 estabelecimentos que vendem café da fajã, as respetivas plantações, vistas para o Pico, passagem pela Fajã da Fragueira e uma escadaria de pedra quase a finalizar.
escadaria pedra
Tendo um músico na comitiva, este tinha particular interesse por uma edificação da Fajã da Fragueira. São Jorge é conhecida pela produção de músicos de qualidade, sendo mesmo possível encontrar diversas casas filarmónicas espalhadas pela ilha. Um dos expoentes máximos dessa expressão musical pode ser encontrado no maestro Francisco de Lacerda, cuja obra extravasou em muito a ilha. E é com pena, isto apesar de podermos encontrar algumas homenagens no concelho, vermos que um dos locais onde o músico viveu durante alguns anos, está em ruínas. É estranho uma ilha onde o património histórico não abunda, não valorizar o que tem ou quando o tenta fazer, fá-lo de uma forma algo dúbia (exemplo mais flagrante será talvez o auditório municipal de Velas, contruído dentro do Forte de nossa Senhora da Conceição).
Se a norma é, usualmente, termos um pedaço de terra mais plano que entra mar adentro, isto quando olhamos para a maior parte das outras fajãs da ilha, a dos Vimes difere por estar perfeitamente integrada na linha de costa da ilha e é abraçada por arribas que tornam este local dos mais chuvosos, coisa que coincidência ou não, pudemos atestar. Para além de ser ponto de passagem/cruzamento de trilhos pedestres, este é um local que nos parece obrigatório quanto mais não seja para ver as colchas, feitas e tecidas por artesãs locais, ou provar o café produzido na fajã, havendo dois spots para o fazer: o já afamado café Nunes e a Quinta do Café, tendo a nossa escolha recaído neste segundo que ficava mais à mão para quem faz o PR09 (que falaremos no próximo post) e, bom, em boa verdade, mesmo que não fosse, sendo nós do contra, teríamos escolhido este na mesma 😬.
Só podemos dizer que foi uma bela surpresa, muito aromático (e com um toque frutado e… ups, líquido errado). De referir que é também possível fazer visita às plantações e perceber todo o processo de fabrico, todo ele artesanal. Finalmente, a par com Gran Canaria, este é um dos únicos sítios na Europa que tem produção já com alguma tradição (primeiras plantações remontam ao século 19).
Feita a degustação e, como um dos panfletos de PR referia que o porto é um bom spot para refrescar, os nossos melgas resolveram dar uns mergulhos e.. hum.. bom, fotos falam por si 😁
Como tínhamos ficado por Lourais (3º, conforme identificado no mapa do PR), este foi o ponto de partida natural para a segunda e última etapa do PR03, junto à ermida de Nossa Senhora do Livramento. Se na primeira parte foi a subir, desta foi sempre a descer. Um início muito à semelhança do que tinha sido a parte final da primeira, com campos de cultivo a apresentarem um relevo cada vez mais em patamares e ribeiras com autênticos mini desfiladeiros, cascatas e quedas de água.
galeria do turista
Dos percursos mais completos e bonitos que já fizemos. Completo porque tinha tudo: pouca afluência (somos capazes de nos termos cruzado com uma pessoa), bastante água com cascatas/quedas de água em vários pontos, muito verde e sombras, single track em quase toda a extensão, ponte suspensa e vistas lindíssimas para fajãs da ilha e o Pico.
galeria do turista
Só não foi perfeito por causa da chuva, acabamos por ter de improvisar um sítio para almoçar, mas ei (!), se não fosse assim não seria Açores 😊
Aproveitando o facto de estarmos alojados na fajã, partimos do seu centro, onde encontramos a sua lindíssima ermida bem como o único estabelecimento de restauração (e os seus belos petiscos), em direção ao Porto da Panela.
Porto da Panela
Fomos apreciando as casas com alguns traços típicos, sendo o mais evidente as janelas de 3 folhas de correr sobrepostas (ou seja, correm na vertical!), algo que encontramos ainda com alguma abundância nesta fajã. Mais à frente, a praia da Baía da Areia, uma das poucas com areia na ilha (conseguimos encontrar 3 enquanto por lá andamos).
praia da Baía da Areia
Segue-se a ponte sobre a ribeira de São João, de onde é possível adivinhar que a montante se encontra um desfiladeiro (havemos de escrever um post só sobre ribeira…), para de seguida começar o calvário, perdão, a subida, se bem que ainda de uma forma ligeira. Numa fase inicial é possível observar outra fajã, esta dizem que é “do Além”. Apesar do seu acesso já só ser aconselhável a viaturas com tração mais musculada e com um traçado em terra batida, algo comum em muitas fajãs, é possível observar pequenos socalcos em degraus ainda cultivados com tomateiros, abóboras, milho, inhames, vinhas, figueiras e algumas bananeiras. Aqui e ali, algumas pequenas casinhas de pedra.
Depois dos últimos socalcos cultivados, começa verdadeiramente a subida, mas as vistas… Bem, olhando para a esquerda, o mar e a ilha do pico, olhando para a direita uma parede de verde! Olhando para trás, a fajã de S. João. Sobe-se, sobe-se e continua-se a subir. A determinada altura, ouve-se o cantar de um milhar (nós contamos 😬) de melros ao desafio na mata …
E assim fomos até Lourais, não sem antes sermos surpreendidos por uma ribeira que em tempo de mais pluviosidade deve ali formar uma majestosa cascata: a ribeira do Salto.
De referir que é um dos muitos locais escolhidos para a prática de canyoning (1). Não satisfeitos, o Melga Júnior e o Turista ainda foram à procura do topo da queda (e encontraram!), enquanto que o resto da equipa deu meia volta, aproveitando para fazer uma paragem na praia e refrescar. Caso para dizer que soube a pato!
(1) Para quem conhece as Flores sabe que a ilha é um pequeno paraíso para a prática do Canyoning. Das pesquisas para estas férias, já sabíamos que muitos punham São Jorge em pé de igualdade com as Flores. Depois dos trilhos que fizemos, dos desfiladeiros que vimos (de uma beleza incrível e aparentemente intocados) e quedas de água imponentes, não ficam dúvidas do potencial da ilha para esta atividade. Só temos um senão, isto comparando com Flores: a qualidade da água. Pareceu-nos que muitos cursos acabam por sofrer da abundância de gado bovino na ilha…
2021 deveria ter sido a oportunidade de retomarmos o projeto que tinha ficado em águas de bacalhau, mas com o avançar do ano fomos percebendo que teríamos, muito provavelmente, uma reedição do ano anterior, isto se não tentássemos tomar as rédeas o quanto antes. Para quem gosta de viajar e tendo em conta o que temos tido oportunidade de ver de outros pares, há 2 possibilidades para quem não tem margem para grandes surpresas em tempos de pandemia: ou se marca tudo muito em cima do acontecimento o que, tendo em conta o cenário atual, pode dar origem a autênticos achados em alguns destinos, ou então se for para definir as coisas com algum tempo, então optar por um destino “seguro”. Visto os 2 seniores terem estado neste início de 2021 com novos projetos, com muitos ajustes à mistura, optamos pela opção que nos permitiria fazer as coisas com mais calma, sem grandes stresses.
São Miguel – Miradouro da Boca do Inferno
Quando começamos a voar para outras paragens, surgiu o boom do turismo nos Açores, que veio por arrasto à autorização de algumas low-costs poderem voar para São Miguel. Tendo em conta o nosso perfil, gostamos muito de ver patrimônio seja ele edificado pelo homem, seja natural, e querendo ver os Açores na sua forma mais genuína, ainda sem grandes alterações que o turismo de massa pudesse trazer, visitar as 9 ilhas o quanto antes foi durante uns anos a nossa prioridade. E assim foi, tínhamos fechado este capítulo há 2 anos com a nossa estadia em Santa Maria, onde palmilhamos literalmente toda a ilha (só utilizamos transportes públicos e táxi para fazermos ligação aos pontos de partida de PR´s e regressarmos ao local de pernoita).
Santa Maria – PR05 Costa Sul
Este masoquismo viajante surgiu um pouco por acidente, aquando da nossa estadia pelo grupo central, quando visitamos as 5 ilhas. Na altura, só tínhamos acautelado as viagens inter ilhas, fomos alugando viaturas muito em cima do momento e resolvendo eventuais falhas com táxis e autocarros. E podemos considerar que, tendo em conta a época alta, já com turistas, sim, mas sobretudo muitos emigrantes, as coisas até correram muito bem, isto até chegarmos à última ilha, Graciosa. Falhados os esforços de arranjar uma viatura antecipadamente e dado a hora já tardia da nossa chegada para tentar in loco, restou-nos olhar para o mapa da ilha enquanto fazíamos a viagem de barco Terceira-Graciosa, e tentar delinear uma estratégia para aqueles quase 2 dias, aproveitando algo que já tinha sido pensado para o Faial como plano B: táxi se precisarmos, sempre que possível caminhamos, sendo o objetivo atravessar a ilha..
Graciosa – acesso ao caldeirão
Sendo a segunda menor ilha do arquipélago, acreditávamos que era um risco controlado.. E foi! Para quem conhece as nove ilhas, a afirmação que se segue poderá ser um choque, mas em boa verdade, a ilha que marcou verdadeiramente o Turista até hoje foi a Graciosa. É verdade que pode ter ajudado o facto de, pela primeira vez, termos tido facilidade em comer peixe, ou por termos ficado alojados perto das termas, com um fluxo de água de água quente para o mar, ou pela forma como se acede ao cone principal da ilha bem como à cavidade da furna do enxofre.. Muito ajudou para esta sua apreciação, mas em boa verdade o catalisador foi o facto de, pela primeira vez, este não ter conduzido, não sendo necessário estar todo o tempo atento à estrada, podendo os seus sentidos serem desviados para tudo o que o rodeava, de uma forma que não tinha acontecido nas outras.. Fruto desta experiência, Flores e Santa Maria já foram pensadas para tentarmos caminhar o máximo.
Flores – A “nossa” rica casinha..
Após a conclusão das 9, olhando para trás, tínhamos a sensação que 4 ilhas mereciam um regresso mais prolongado: Graciosa, Faial, Corvo e São Jorge. Se a esta lista acrescentarmos o facto de não termos íman desta última, a escolha para este ano só podia ser uma..
Fruto do desapego a qualquer itinerário com um planeamento mais rígido, esta minivolta a Portugal acabou por ser algo errática se olharmos para o mapa e dias passados em alguns pontos. Das poucas coisas que tinhamos fechado e que não queríamos abdicar é que o regresso nunca seria feito por etapas superiores a 250kms pelo que era tempo de soltarmos as amarras e rumarmos a norte (cuarago!).
Pequeno almoço e último banho de nevoeiro tomados, saímos do parque de campismo e resolvemos fazer uma última paragem por terras mouriscas e passar um par de horas numa praia da nossa coleção, Vale dos Homens, onde continua a ser possível encontrar sossego e até algum isolamento, numa praia que apesar do seu perfil acidentado, consegue oferecer um amplo areal.
Depois do almoço, tempo para uma última paragem em Rogil para comprar uns quantos pães característicos da localidade e seguir caminho. Existiam 2 pontos que queríamos visitar há muito e aproveitamos o facto de o regresso ser em modo tartaruga, sendo o primeiro a praia do Brejão. Bem, na realidade e apesar deste ser de facto o nome da praia ou pelo menos era, a verdade é que hoje, se a quisermos encontrar, será mais fácil pesquisar por praia da Amália, pois este era um dos retiros prediletos da famosa fadista.
No caminho e à medida que nos íamos aproximando, aumentava a densidade das estufas, estando o próprio acesso à praia rodeado pelas mesmas. Não querendo pôr em causa a importância desta indústria até porque será com certeza muito importante para a região, mas a presença das mesmas, com tanto plástico à mistura, acaba por retirar alguma mística que esperávamos encontrar no local. Estacionada a Bicha, o acesso à praia faz-se por um trilho que se desenvolve numa corga/pequeno vale, onde a vegetação acabou por criar alguns túneis, até chegarmos ao alto da falésia, de onde é possível avistar toda a praia.
A praia em si é muito gira, mas dada a afluência, de secreta já nada tem. O que vale é que havia espaço para todos. Foi possível desfrutar da mesma até porque esta apresenta muitas características que tanto apreciamos numa praia: beleza, arribas, rochas que criam barreiras de proteção para os banhos, piscinas e habitat de muitas espécies que tanto gostamos de observar nas marés baixas. Mas esta ofereceu-nos um bónus: não é que o Mitch Buchannon resolveu aparecer! Ainda diziam que a praia não era vigiada..
Foi possível também avistar um peixe de água doce a nadar numa espécie de baía/piscina natural.
Em relação aos Melgas, se calhar o Turista não ponderou muito bem quando os batizou, às vezes (muitas) estes mais parecem uns patinhos de água..
E não havendo mais nada destinado até ao local da pernoita, fomos por ali ficando até ao entardecer..
Hoje foi dia de percorrer Portugal de Lés-a-Lés, neste caso da fronteira este até ao oceano, no extremo oeste, de uma forma que provavelmente não o voltaremos a fazer, por estradas no limiar da fronteira do Alentejo com o Algarve. Este dia valeu sobretudo pela estrada, pelos cenários. Mesmo a Bicha gostou da estirada, apesar desta ser de serra. Uma mistura de serra e Alentejo, bom para quem queira desenjoar um pouco das planícies (não era o nosso caso).
Mértola
Para além da estrada e paisagens, o percurso brindou-nos com 3 pontos de interesse: A arqueologia de Mértola (ahh, como o Turista foi.. bom, adiante..)
Mértola
, a simplicidade de Almodôvar e a tristeza de ver que Monchique continua com o mesmo potencial de há uma década, continuando Foía e as Caldas os principais pontos de interesse, vetando o convento de Nossa Senhora do Desterro ao abandono.. A culpa é infelizmente imagem do que somos, o convento foi vendido após a extinção das ordens religiosas em Portugal, mas ao invés do que deveria ter sido feito, este edifício, que já na altura não estaria nas melhores condições, foi vendido em parcelas. Apesar dos esforços da autarquia em adquirir a sua totalidade, a verdade é que este ainda não é sua posse na totalidade, dificultando a sua recuperação.
Acabamos por nos focar no nosso destino, a malta queria praia! E praia tiveram, num que foi durante muitos anos o nosso destino de eleição, Aljezur. Acabamos por parquear a Bicha no parque do Serrão. Peca pela vegetação, tudo eucalipto, mas tem boas infraestruturas e é um bom ponto de partida para algumas praias do nosso top: Carreagem e Vale dos Homens, acrescendo Amoreira, que tem a singularidade de ter a desaguar a ribeira de Aljezur, um pouco à semelhança do que acontece noutra um pouco a norte, a praia de Odeceixe. Instalados, tempo de tirar os meios de locomoção de 2 rodas e de nos fazermos aos caminhos de terra, em direção a Amoreira. Esta é caracterizado por um areal considerável, se compararmos com a generalidade das praias da zona e como bons Tugas que somos, fomos logo:
– opção a) estender a toalha na planície de areia, no meio da confusão
– opção b) caminhar para o extremo norte da praia, cheio de formações rochosas e parcos locais para estender a toalha
Pois bem, apesar de termos estado diversas vezes na região, Amoreira acabou por ser sempre uma espécie de patinho feio das nossas escolhas pelo que foi com surpresa, em plena maré baixa, que descobrimos um spot que tem um misto de Carreagem e Vale dos Homens pelo que a nossa escolha acabou por reverter na opção b, obviamente. E lá terminamos o nosso dia a explorar criaturas e formações no meio das rochas..
.. não sem antes fazermos novas amizades com os suspeitos do costume ..
Se há coisa que apreciamos do Alentejo é o pão! Já é praxe levarmos uns quantos para casa sempre que passamos pela região. Se a isto aliarmos aquele calor tão bom que sentimos logo pela manhã com o raiar do sol, estavam reunidas as condições para que o Turista fosse o primeiro a levantar-se e a sair da Bicha, em busca de uns belos pães alentejanos, aproveitando para deambular um pouco ao acaso pelas ruas da povoação. Nunca tínhamos estado nesta tão afamada aldeia. Tudo muito ordenado, a generalidade das construções respeitam o que é típico nesta região, sem grandes movimentações. Encontrada a padaria e feitas umas quantas aquisições, ainda teve a oportunidade de ir até a igreja de Senhora da Luz, reconstrução à imagem da original, onde encontrámos nas proximidades o museu da aldeia “antiga”, bem como o cemitério trasladado. Foi ainda possível avistar uns passadiços e a uma espécie de marina, que acabamos por visitar depois do pequeno almoço.
O percurso em si é relativamente curto, talvez dê 1km ida e volta, mas acabou por ter vários motivos de interesse que nos fizeram prolongar o passeio por mais tempo do que o normal para esta distância.
Tivemos a sorte de o percorrer sozinhos, cada um um pouco na sua, ora a olhar para as vacas, ora para os “fura olhos” (libélulas), ora para a paisagem onde avistávamos um casamento quase perfeito entre o Alentejo e o resultado da intervenção do homem, o espelho de água do Alqueva.
Seguindo viagem a sul, acabamos por delinear duas paragens antes do destino final, uma praia fluvial onde queríamos dar uns mergulhos com o calor ainda a apertar. Primeira paragem, Moura. Pequena cidade com uma malha urbana algo cerrada junto do seu núcleo, constituído por um castelo e convento em ruínas. Passeio agradável, algumas ruas singulares, muitas a fazerem pose para a foto e o conjunto museológico/castelo/convento, tudo muito arranjado, que só peca pelo convento não ter sido ainda alvo de intervenção com vista ao seu restauro.
Próximo destino, Serpa. A ligação do nosso Turista com esta localidade é já antiga. Foi ponto de passagem por 2 ocasiões deste até terras de Tavira, com pernoita em casa de colega de curso, este ainda era estudante. Como diria uma certa figura pública, fui muito feliz em Serpa.. 😎 Outros tempos, outras prioridades, de tal forma que ele até acabou por lá passar por 2 vezes e nem se lembra da cidade ter castelo ou muralhas.. Entretanto já enquanto casal, tivemos a oportunidade de visitar o núcleo urbano tendo batido com o nariz no portão de acesso ao castelo, que nos deixou com sede de voltar dada a singularidade do acesso ao monumento.
Um reflexo do tempo e ironia do destino, agora é a mai’ velha que tem uma amizade por terras serpenses, com a qual nos encontramos e nos brindou com uma visita guiada pela cidade. Tudo corria 5 estrelas, íamos deambulando pelas ruelas, tirando fotos e trocando impressões aqui e ali, aproximando-nos a passos largos do ponto alto desta paragem, quando viramos finalmente para o acesso e.. Bom, ainda não foi desta, uns tenrinhos esqueceram-se que era segunda-feira e o que acontece na maior parte dos monumentos nacionais às segundas? Estão fechados… Bom, chatice, lá teremos de voltar outra vez para tentar a sorte e levarmos mais uns queijinhos para casa..
Depois de agradecermos a hospitalidade, retomamos a estrada rumo à Mina de São Domingos, onde iriamos pernoitar. Pequena localidade que se desenvolveu em torno das minas ainda em tempos pré-romanos, até sensivelmente meados do século passado e que hoje acaba por viver de algum turismo, com potencial para muito mais. Um dos atrativos da localidade é a praia fluvial da Tapada Grande e era a grande motivação para tentarmos chegar não muito tarde ao local, de forma a aproveitarmos mais uma praia fluvial galardoada com bandeira azul. Gostamos, local agradável, boas infraestruturas e água razoável (tendo em conta altura do ano e quantidade de pessoas na água..).
Uma vez saciados na arte do chapinhar, tempo de calçar as sapatilhas e darmos um salto até ao complexo mineiro de São Domingos. Existem algumas placas no local mas com potencial para muito mais. Com mais algum tempo teríamos feito o antigo percurso férreo até ao Pomarão, de bicicleta, mas sendo ainda 20 km’s lineares (logo 40km’s no total), é algo para ser feito com alguma folga (para esta distância reservamos tipicamente pelo menos 3 horas). As minas em si prolongam-se por km’s, pois encontramos unidades espalhadas ao longo da linha, bem como zonas desprovidas de qualquer vida, cenários quase marcianos..
Há um misto de sensações ao visitá-las, à curiosidade em perceber como era feita a exploração e ver o que ainda existe edificado, acabamos por também ter uma amostra das consequências dos nossos atos, com impacto profundo em áreas de grandes proporções, onde nada cresce ou crateras onde se formam lagos cujas águas são ácidas. O pior é que o homem teima em não aprender.. Ainda há pouco tempo vimos um documentário na rtp3 que aconselhamos verem vivamente por abordar o outro lado das energias verdes (https://www.rtp.pt/play/p7804/e544035/o-lado-negro-das-energias-verdes). Todo o documentário nos dá uma outra visão, o reverso da medalha do que nos andam a vender como sendo verde, sendo os minutos 19-20 indiscritíveis.. Estaremos tão só a deslocalizar focos de poluição?
Viajar é isto, se é verdade que nos faz muitas vezes sonhar, é também verdade que servem para vermos coisas fora da caixa, que nos fazem pensar, crescer e até repensar as nossas prioridades..
Ó Monsaraz, ó Monsaraz, Mourão à vista! Se o parque reservado para autocaravanas de Monsaraz é esquivo nas infraestruturas, basicamente só temos o sítio para estacionar (isto se não chegarmos muito tarde..), não deixa de ser um sítio a repetir numa próxima passagem por estas bandas. Aquela vista sobre a albufeira do Alqueva não tem igual.
Pequeno almoço tomado, hora de fazermos um pequeno roteiro pelas praias fluviais (oficiais..) do Alqueva: Monsaraz-Amieira-Mourão. Começamos o nosso périplo pela praia fluvial de Monsaraz. Para nós a melhor tanto a nível de água, areia e infraestruturas, e a que, estranhamente, acabamos por estar menos tempo. Fomos na hora em que o calor já apertava e estávamos já muito preocupados com o almoço (depois bem podemos queixar-nos do pneuzinho..).
Este acabou por ser na terra, quiçá capital, dos oleiros, São Pedro do Corval, onde almoçamos no restaurante ‘A Tarefa’. Como não foram capazes de cobrir o nosso cachet, só podemos dizer que tem uma boa relação qualidade/preço 😂
Já almoçados, tempo de picar o ponto e irmos à procura do íman para o .. hum.. ainda é para o frigorífico, se bem que este deve ficar ao nível do chão 😅.. De forma a otimizar um pouco o trajeto, até porque acabamos por andar um pouco para trás no decorrer deste dia tendo em conta o local previsto para a pernoita, seguimos caminho em direção à praia fluvial de Amieira. Não ficamos fãs, nem fotos tirámos (..), talvez por termos estado primeiro na de Monsaraz. As infraestruturas, apesar de mais simples, são mais do que suficientes. O areal é grande se bem que junto a água existia uma falha preenchida por uma espécie de lama/lodo, que para quem quer fazer um tratamento de beleza aos pés, até poderá ser bom.. Quanto à água, esta apresentava um aspeto demasiado turvo. Julgamos que é normal, a praia encontra-se numa espécie de braço do Alqueva, algo estreito e que, apesar de ter o rio Degebe a alimentá-lo, existem barragens a montante que em Agosto provavelmente pouca água fornecem ao curso de água. Mesmo assim, demos um mergulho rápido, afinal estávamos numa praia também ela galardoada pela bandeira azul em 2020 (algo que, para além das águas, as 3 praias visitadas tinham em comum). Picado o ponto, voltámos a estrada e repusemos o fluxo natural da viagem, novamente em direção a sul, a caminho da praia fluvial de Mourão. Foi a praia onde acabámos por estar mais tempo, não por ser a melhor, mas sim porque foi nesta que resolvemos tirar finalmente os kayaks da bagageira e fazer um pequeno passeio pela albufeira. Pequeno porque o vento não deu tréguas, mas o suficiente para matar saudades e termos outra perspetiva do Alqueva. A albufeira é gigante! Sem dúvidas algo a repetir numa modalidade de alojamento local, utilizando outro meio de locomoção terrestre que nos permita levar as versões rígidas dos meios aquáticos.
Um aparte quanto a água, melhor que em Amieira, mas também ela turva e com lodo na entrada para a água, quando comparado com Monsaraz. Aqui, apesar de muito mais aberto que na praia de Amieira, estamos noutro braço do Alqueva, o que deve contribuir para uma menor dispersão das partículas em suspensão que, associado a grande afluência de pessoas em agosto, contribui para águas menos límpidas.
Desta praia ainda tivemos a oportunidade de trazer uma história, a juventude resolveu também ela aproveitar os meios aquáticos e dar uma volta pela albufeira. Já a mais velha estava em terra e tinha colocado a embarcação a secar, verificámos que a versão mais jovem estava a muitas centenas de metros da praia, prestes a ser atacado por um cisne rosa gigante! Não certos da docilidade do animal, ficámos logo preocupados. Em suma, alguém na praia deixou à solta um cisne insuflável que, vendo que o vento estava de feição aproveitou e fez-se à albufeira. Uma senhora foi atrás do bicho numa prancha de paddle, para lá foi muito bem e conseguiu apanhá-lo, o problema foi voltar, isto porque o vento era forte e constante na direção contrária.. O nosso jovem herói foi ele também atrás do bicho, acompanhou e ofereceu-se para ajudar por 2 ou 3 vezes, todas elas recusadas. Dito isto, restou-nos observar a luta titânica para que o cisne regressasse.. Findo este périplo, ainda deambulámos um pouco pela península enquanto o sol se punha..
Já com o sol poisado no horizonte, tempo de ir até ao spot para a noite, a Aldeia da Luz. O local de estacionamento não é dos melhores, muito escuro e apesar de encostado ao aglomerado da aldeia, não fosse estarem mais 2 autocaravanas no local ficaria o sentimento de algum isolamento. Durante a noite ainda fomos brindados com sons de algo a passar junto da face mais escura do veículo, ao qual o Turista prontamente calçou a capa (vá, sapatilhas) e foi até ao exterior, aproveitando para dar um sprintzinho, só para ver se ainda estava em forma 😁
Outro dia puxadinho! A nossa primeira paragem foi para conhecer a praia fluvial do Alamal, que fica no concelho de Gavião. Dizem que é “A Pérola do Tejo” e, não fossemos nós estragar tão ilustre lugar, decidimos não testar a qualidade da água. Vá, em boa verdade, era cedo e ainda não convidava muito. Depois de apreciar a envolvência da praia, percorremos o passadiço do Alamal, que era a principal motivação da paragem. Tanto a praia como o passadiço são vigiados pelo castelo de Belver, que fica do outro lado do rio. Não sendo um passadiço monumental, pois não chega a ter 2 km’s de extensão linear (ou seja, quase 4km’s a contar com o regresso), o percurso torna-se numa conjugação engraçada de natureza e história. Depois do passeio e de termos aproveitado para tirar umas quantas fotos, tempo de regressar à Bicha, à qual estava reservada a subida dali para fora numa espécie de hora de ponta (a hora do almoço aproximava-se e notava-se o aumento de trânsito em direção à praia), num acesso caracterizado por um declive já apreciável para o nosso meio de locomoção e por umas belas curvas em forma de gancho. Após alguma espera, o fluxo lá acalmou e, numa nesga em que não vislumbrávamos carros a descer, lá fomos nós em direção a Arraiolos.
Noutras andanças, já tínhamos passado por perto dessa localidade, mas nunca tínhamos feito paragem nessa tão afamada terra dos tapetes. Fomos então conhecer o seu castelo. No cimo do seu monte, denominado de “monte de S. Pedro”, o monumento tem a singularidade de ser circular. Acabou por ser uma visita relativamente curta pois, se é verdade que o interior do mesmo é amplo, trata-se de um castelo de grandes proporções, pouco encontramos dentro da muralha para além da Igreja do Salvador, que estava fechada.
Assim, reconhecido este território, fomos tratar do almoço e seguimos viagem em direção a Évora. Ao invés do que seria expectável, visto a quantidade de motivos de interesse para visitarmos a cidade, acabámos por passar “ao largo” e fomos até ao aeródromo de Évora. Não, não fomos tentar que a “bicha” levantasse voo. A criança “mai’ velha” tinha alugado um kit de asas há já algum tempo e como não ficava muito fora de mão, lá acedemos e demos-lhe boleia até ao local de embarque. Foi muito giro. Muito giro mesmo… 4 horas de espera debaixo daquele belo sol que caracteriza aquela zona do Alentejo, em pleno agosto, com parquíssimas sombras. Mas pelos vistos valeu a pena, tendo em conta o sorriso de orelha a orelha da criança “mai’ velha” após o salto, de tal forma que a mãe e até o irmão já estavam todos empolgados em marcar uma descida. Estranhamente, não foi possível encontrar o mesmo entusiasmo por parte do pai.. Tenrinho..
Para terminar o dia, seguimos viagem até Monsaraz, o local definido para a pernoita. Apesar da espera prolongada pelos arredores de Évora, que em teoria poderia causar mossa no que tínhamos programado para o resto do dia, a verdade é que deu para chegarmos calmamente a Monsaraz e ainda tivemos oportunidade de escolher o local no parque destinado às autocaravanas. Já instalados, subimos até à pequena povoação dentro da muralha e no castelo aguardámos que o sol se escondesse. Como nós, muitos outros foram chegando para apreciar a magia daquele momento, num espetáculo natural em tons dourados, tendo por fundo um espelho de água e o silêncio, apenas perturbado por pássaros e vozes discretas dos espetadores. Mesmo cheios de fome, só arredámos pé dali depois de satisfeitos. Monsaraz é sem dúvidas dos locais mais idílicos para se estar num final de dia.
Quando descemos até ao parque, acabámos por constatar a forma um tanto ou quanto peculiar que caracterizava o nosso estacionamento, que quebrava o alinhamento perfeito dos demais veículos. Em pouco mais de 1 hora, o parque estava repleto de autocaravanas! Lá fomos fazer a nossa faxina e, depois de jantar, regressámos ao povoado para vaguear, percorrendo as ruas catitas e pitorescas, e aproveitando para mais algumas fotografias.
No trajeto do dia anterior, acabámos por passar por mais locais que, em condições normais, teriam merecido não só uma menção, mas também uma visita mais prolongada. No entanto, o caso de Longroiva acaba por ser mais grave pois, não só não parámos (desta vez..) como o local nem menção mereceu (!) Assim, importa antes de mais referir a razão, conseguem adivinhar? Isso mesmo, a bicha.. Perdemos a oportunidade de a estacionar logo à entrada da vila e pronto.. Mas boas notícias, temos memória que daqui para a frente aprendemos (finalmente) a lição.. E em boa verdade, a este facto também se juntou a ânsia de chegar a tempo de um mergulho nas piscinas junto ao parque de campismo. Em relação à povoação, importa referir que, ao passarmos por lá ao final do dia, ficou-nos na retina a forma como a luz incidia nas construções, sobretudo na zona do pequeno castelo.. Quanto a locais de interesse, para além do já referido castelo (que, da última vez que por lá passámos, também acumulava as funções de cemitério..) e o pelourinho, Longroiva é conhecida também pela sua estância termal.
É verdade que, sendo Marialva um ponto que queríamos reviver, teria sido perfeitamente possível e se calhar mais rápido passar novamente por Longroiva, mas preferimos optar por uma estrada que nunca tínhamos percorrido e chegar a Marialva com outra perspetiva.
A pernoita no parque de campismo de Mêda foi tranquila (lembram-se da ânsia por um mergulho na piscina? pois bem, o melhor que se arranjou foi mesmo um banho de chuveiro, a piscina já estava a encerrar quando lá chegámos). O parque tinha boas condições, sendo o espaço para cada autocaravana bem delimitado, com acesso a mesa de madeira, estendal de roupa e outros pormenores. Na tarde anterior, quando chegámos e estacionámos, um vizinho autocaravanista veio logo dar-nos dicas de qual a melhor forma de estacionar sem levar com o sol da manhã. Agradecemos, mas dissemos que só ficávamos uma noite. O Senhor ficou espantado. Dissemos que sempre tivemos medo que as rodas ganhassem raízes e, por isso, partíamos no dia seguinte para ver mais mundo! E assim foi, seguimos viagem até a aldeia histórica de Marialva, muito perto de Mêda.
Foi um revisitar. Há alguns anos atrás, já lá tínhamos passado uma noite muito confortável numas conhecidas casas turísticas. Refere o site da Câmara Municipal de Mêda, que “ao entrar em Marialva, fica-nos a sensação que entramos num cenário histórico, as ruas, ladeadas por edifícios resistentes ao tempo, conduzem-nos à cidadela cercada pelas muralhas em cujas ruínas perdemos a noção do tempo”. Esta sensação é mesmo real.
De Marialva rumámos a Pinhel, onde chegámos pela hora de almoço. Depois de algumas voltinhas pela cidade até encontrar um sítio com sombra para estacionar, cozinhámos e fomos depois conhecer a zona mais antiga. A cidade parecia não ter habitantes. Pequenos comércios encerrados, raramente nos cruzámos com outras pessoas.. Bem, em boa verdade, podiam estar apenas a resguardar-se do calor e o problema sermos nós, que temos a mania que somos muita fo’tes.. Percorrendo as ruas mais antigas que nos levaram ao castelo da “Cidade Falcão”, assim é conhecida, vimos casas de pedra, umas mais asseadas que outras e algumas em decadência, solares, capelas e igreja. Tem uma vista panorâmica interessante no cimo do monte, onde está a torre do castelo, que não foi possível visitar.
Dali fomos em busca de mais património histórico (Oh não! E piscinas, praias fluviais, não há?! ). Destino: Vilar Maior. Mas antes de lá chegar, as vozes dos “crianços na maioridade” foram escutadas e eis que, de repente, encontrámos uma indicação de “praia fluvial”. Paragem obrigatória! Era um dia muito quente e, nesses dias, a água comanda a vida. A praia, com nome engraçado, “Badamalos”, estava pejada de portugueses emigrantes em França. Era notório pelo parque automóvel por ali estacionado, cheio de matrículas francesas, e também pelo dialeto do qual pudemos ouvir coisas como “Michel, vien que a água está bonne!”
Depois do refresco nas águas do rio Côa, fomos então à procura do tal Castelo de Vilar Maior. Quase a chegar ao destino, já se avistava o castelo no cimo de um monte, seguimos as primeiras indicações para a povoação que nos levaram para uma estrada de paralelos que, à medida que fomos avançando, começou a afunilar.. Pensámos desistir, mas o condutor, que sofre do tal síndrome do muita fo’te, decidiu avançar (ao seu lado ia alguém a rezar para que não aparecesse nenhum veículo em sentido contrário. As preces foram ouvidas! ). O castelo de Vilar Maior fica numa pequena povoação e freguesia com o mesmo nome. Não se consegue aceder ao castelo a não ser a pé, mas o percurso é breve e bem sinalizado. O castelo está relativamente bem cuidado, sendo exceção o interior da torre de menagem. O local é muito tranquilo e, apesar de ser um castelo pequeno, com partes em ruína, tem informação histórica disponível no local. Caso para dizer que valeu a pena a paragem até porque nunca ali tínhamos estado, apesar de ser uma zona do país que já explorámos noutras ocasiões..
Seguimos a o itinerário em direção ao poiso da próxima dormida, o parque de campismo junto à praia fluvial de Valhelhas. Chegámos na hora em que as bóias e os cestos de piquenique estavam a desertar! Chatice, tanto espaço para nós.. E que bem que soube mergulhar na água do rio Zêzere àquela hora..
A opção de pernoitarmos por Torre de Moncorvo, apesar de já assinalada no mapa inicial, não deixou de ser uma solução de recurso. Visto o dia anterior não ter sido daqueles dias idílicos como muitas vezes gostaríamos de pintar (até fizemos com que a bicha, numa manobra de inversão de marcha em Peso da Régua, trouxesse um recuerdo no para-choques traseiro), as expectativas para este dia “nasceram” uns furos abaixo do habitual. Dito isto, feita alguma pesquisa na noite anterior sobre a localidade e como tínhamos as bicicletas, resolvemos retirá-las do sufoco das cintas e ir até à ecopista do Sabor, que aproveita o antigo traçado da linha férrea com o mesmo nome. Optámos por fazer o troço entre Torre de Moncorvo até Pocinho e, de uma coisa que não estava prevista, acabámos por ter um dos pontos altos do nosso roteiro..
Chegados finalmente ao Pocinho, deparámo-nos com a antiga ponte da ferrovia, dando término ao percurso. Curiosos com a estrutura, demos meia volta até conseguirmos chegar à entrada do tabuleiro inferior, onde tivemos direito a um desfile de modelos..
No regresso, apesar do calor já apertar, o fraco desnível que caracteriza este tipo de percurso permitiu-nos fazer a viagem a bom ritmo.
Ahh, tudo corria de feição, chegámos a Torre de Moncorvo depois de uma manhã que temos por cheia, quando surge a segunda saga desta pequena odisseia: furos! Tempo de regressar a “casa” para cozinhar e consertar um dos veículos de duas rodas.
De tarde e estando já com um pé em Trás-os-Montes, aproveitámos para dar um salto até à adega cooperativa, de onde só temos pena de não ter trazido mais azeite e vinho. Pelo caminho aproveitámos para revisitar a igreja de Moncorvo e a sua afamada figueira, ou pelo menos o que dela resta..
Contrariamente ao dia anterior, acabámos por passar praticamente todo o dia por terras de Moncorvo, pelo que optámos por um salto mais curto para a nossa pernoita, tendo recaído a escolha no parque de campismo de Mêda. Como é normal nestas andanças, aproveitámos o trajeto para fazer um pequeno desvio em Vila Nova de Foz Côa para ir às compras de bens essenciais como, por exemplo, câmaras de ar para bicicletas.. Já em Mêda, após banhos e jantar, ainda tivemos a oportunidade de deambular um pouco pela localidade que, não sendo monumental, não deixa de ter um aglomerado, na sua zona mais antiga, que merece uma visita e que, a partir do qual, podemos facilmente aceder ao morro do castelo e ao ex-libris da cidade, a torre do relógio.
Continuámos a viagem pela estrada nacional 222, em direção a Peso da Régua. A viagem foi demorada, pois conduzir uma autocaravana de porte médio ou grande numa estrada com muitas curvas e por vezes muito estreita, é um ato de coragem, principalmente quando de frente nos aparecem veículos pesados e em excesso de velocidade… A primeira paragem neste trajeto foi o miradouro de Teixeirô. Dali avista-se a foz do rio Bestança, a albufeira da Pala, resultante da construção da barragem de Carrapatelo, a linha ferroviária do Douro e a ponte de Mosteirô. (Chegar a este miradouro com a autocaravana foi a primeira aventura: estrada estreita, sem sítio adequado para estacionar… logo que pudemos, parámos a “casa com rodas” e fomos procurar o miradouro a pé, o que vale é que faltava pouco!)
“Queremos água!” – gritavam eles.. A primeira paragem para banhos foi no ribeiro Cabrum. Na estrada nacional 222, encontrámos um estacionamento de terra batida e indicações para as poças do Cabrum. Ali passámos algum tempo a refrescar-nos na água límpida e a saltar para a “poça”, até a barriga dar sinais que, se calhar, deveríamos procurar algum repasto.
Almoço feito e saboreado ao som da água do rio a correr, fomos bem mandados e não fomos “cabrum”, deixando o local tal qual o tínhamos encontrado.. Continuando pela N222, o próximo ponto de interesse foram as termas das Caldas de Aregos. Paragem por breves instantes onde ainda deu para molhar as mãos na água sulfurosa e apreciar, a partir do seu porto, a forma em como a pequena localidade se desenvolveu sobre o anfiteatro natural para o seu porto.
Voltando a estrada e apesar de termos passado por muitos pontos de interesse tais como Resende ou Peso da Régua (este último até tem um parque de autocaravanas muito conhecido), acabamos por não explorar muito até porque, aliado ao facto de ser uma zona que já exploramos noutras ocasiões, sentimo-nos condicionados pelo porte da autocaravana. Se já andar com a bicha em alguns troços da N222 foi o que foi.. Dito isto, continuamos pelo miradouro natural que muitos troços desta estrada nacional nos proporcionam e assim foi até chegarmos um pouco antes de Pinhão. Neste ponto o perfil da estrada assume uma rota mais afastada do rio Douro pelo que resolvemos tentar (lembrai-vos da história da bicha..) fazer os tão afamados miradouros do rio Tua. Abandonando a N222 (é só um até já, faremos provavelmente o resto por altura das amendoeiras em flor), lá fomos nós sempre pelas estradas que nos ofereciam aparentemente as melhores condições para passarmos sem grandes calafrios, até ao miradouro do Ujo. Após algumas hesitações quanto ao melhor spot para estacionar, lá fomos ver as vistas (e que vistas).
Tínhamos mais 2 miradouros anotados (São Lourenço e Olhos do Tua) e ainda fomos até a localidade de Safres em direção ao de São Lourenço, de onde deu para perceber o traçado sinuoso que a estrada municipal iria assumir pelo que, aliado ao facto de nos parecer que a mesma estreitava, resolvemos perguntar a uns locais a melhor forma de chegar ao miradouro. Temos noção que eles proferiram algumas palavras, mas em boa verdade o que nos ficou foi a forma em como eles olharam para a bicha com cara de “têm a certeza?” Dito isto, meia volta, novos planos e fomos em direção a Torre de Moncorvo para pernoitarmos. Quando lá chegamos, ficamos um pouco apreensivos pois o parque estava vazio e é meio isolado, mas com o quase anoitecer lá vieram os vizinhos. A área em si está longe de ser tão boa como a da noite anterior, em contrapartida foi muito mais sossegada..
Souselo (Cinfães) área de serviço para Autocaravanas
Chegámos a Souselo já perto da hora de jantar. O sol estava quase a pôr-se. Depois de estacionar a autocaravana, fomos junto à Igreja Matriz, que fica mesmo ao lado, no alto de um pequeno monte. Dali admirámos a despedida de mais um dia. Sentámo-nos e ali ficamos a apreciar calmamente o momento. Depois, as lides normais: preparar o jantar e descansar. Esta área de serviço para autocaravanas é muito recente, com condições excelentes! Disponibilidade de eletricidade, wc e chuveiros. Uma desvantagem é estar situada mesmo junto à estrada nacional 222, o que não permitiu que a noite fosse absolutamente tranquila.
As férias de verão de 2020 estavam a ser programadas há muito tempo. Já tínhamos os bilhetes de avião comprados para os quatro desde o início do ano. Os alojamentos estavam reservados… Contudo, a pandemia trocou-nos as voltas com uma grande pinta! Estivemos sem mais planos pensados até ao mês de julho – meados de julho – quando decidimos fazer uma viagem de autocaravana, com um mapa de Portugal mais ou menos assinalado (só alguns pontos de interesse, mas poucos, para aquilo que é costume). A autocaravana estaria ocupada nos dias que pretendíamos, por isso tivemos mesmo de ir nos primeiros dias de agosto, coisa que não apreciamos muito, porque agosto está cheio de pessoas (calma, gostamos de pessoas, mas na dose certa) que estão de férias e que muitas vezes fazem de um momento que deveria ser bom, um autêntico pesadelo… Mas ok, o facto de viajarmos em autocaravana deu-nos alguma liberdade de poder circular e escolher sítios mais calmos, e o agosto não se mostrou, assim, desagradável.
Não foi a nossa primeira viagem em autocaravana, mas foi a mais demorada. Para fazer esta viagem, foi preciso explorar um pouco uma APP – park4night – que os viajantes com autocaravanas utilizam a fim de saber onde dormir com segurança, onde fazer os despejos de águas sujas (águas de cozinha, banhos e da sanita química) e abastecimento de água potável. Depois de verificar onde existiam locais agradáveis para poder estacionar e passar a noite, definimos a nossa rota.