Há quem defenda que conhecido um local, só devemos lá voltar se tivermos deixado para trás algo que gostaríamos muito de fazer. No caso dos Açores, tínhamos 3: canyoning (Flores ou São Jorge), mergulho com mantas (Santa Maria) e observação de cetáceos (todas as ilhas, com destaque para o triângulo). Ainda estivemos indecisos entre a 1ª e a última, mas lá resolvemos deixar o canyoning para as Flores, parece-nos uma boa desculpa para lá voltar…
Observar os cetáceos que abundam pelo mar das ilhas era uma das experiências que ansiávamos desde a nossa primeira passagem pelo arquipélago. Decisão tomada, lá procurámos uma empresa do ramo (não são muitas em S. Jorge) e marcámos. Do outro lado do telefone, atendeu-nos o Miguel, da SeaExplorersAzores, com o qual combinámos todos os pormenores e no dia marcado, bem cedo, lá fomos ter com ele até à marina de Velas. Aqui, tivemos direito a um briefing onde recebemos alguma informação sobre as espécies que poderíamos encontrar durante o passeio e conhecemos a Rita, também ela da SeaExplorersAzores.
O Miguel e a Rita são ambos biólogos marinhos. A formação destes aliada ao facto de um deles ser natural da ilha, para além de um regalo para os sentidos, tornou este passeio num tempo formativo.
O barco, semirrígido, levou-nos primeiro num calmo passeio onde pudemos observar a zona costeira de Velas. Avistámos noutra perspetiva o famoso arco desta localidade e algumas espécies que habitam nas rochas. De seguida passeámos junto ao Morro e Baía Entre-Morros. Embalados pela suave ondulação, não fossemos nós começar a querer fechar a pestana, o Miguel acelerou e rumámos ao infinito e mais além (vá, andamos lá perto)… Fomos chatear cagarros! É incrível a quantidade de cagarros que boiam nas águas do mar alto. Questionámos muitas vezes por onde andariam durante o dia (porque à noite não tínhamos dúvidas, é um all nigth long nas zonas costeiras das ilhas!).
Fomos levados até à Baixa dos Rosais, local muito procurado por mergulhadores com experiência. Encontra-se a 3 milhas marítimas da Ponta dos Rosais. Esta Baixa é uma formação geológica em que o fundo é dominantemente constituído por camadas sobrepostas de escoadas lávicas de natureza basáltica onde surgem grandes fissuras e acentuados declives. A sua coroa, a cerca de 15 metros de profundidade, apresenta à sua volta uma abundância de diferentes espécies, muitas vezes organizados em cardumes, daí ser um local tão procurado.
Contrastando com o início da viagem, aqui o mar não estava meigo, ondulação já significativa e muito desordenada, mas ainda assim não impediu o Turista e o Melga Júnior que, após alguns conselhos do Miguel (que disse que quem manda é o mar), quiseram meter-se na água para ver o rochedo. E conseguiram, mas não estiveram por lá muito tempo. Dizem que valeu a pena irem apesar do respeito que este lhes incutia, que o contraste entre a anarquia aparente que viam à superfície desaparecia mal mergulharam a cabeça. Aquela imensidão, azul profundo e silêncio, onde no meio do nada foi possível avistar a tal ponta, com cardumes a polvilharem a tela aqui e ali, serenos, quase que em transe.
Depois desta agitada parte do passeio, o Miguel e Rita conduziram-nos durante algum tempo para mais longe da costa, para tentar ver os cetáceos, mas o mar não estava de feição, só os peixes voadores parecem gostar de tanta agitação 😊. Os cetáceos, esses, vendo o reboliço que estava à superfície ou então, souberam que estávamos à procura deles, deixaram-se estar a tomar um chazinho de algas, algures no fundo do mar. Quando embarcamos neste tipo de passeio, é preciso ter noção que nunca é garantido o avistamento, por muito que quem forneça os serviços possam perceber do assunto, ninguém conseguiu ainda estabelecer um contrato com as criaturas marinhas para virem dar um ar da sua graça. Foi o caso naquele dia, alguma desilusão, claro está, mas paciência… É a vida no mar!
De regresso para mais junto da costa de São Jorge, fomos ouvindo o Miguel a falar sobre as suas aventuras de rapaz, quando com os amigos explorava alguns locais. A dada altura, parou o barco, pediu-nos para colocar a máscara e saltou para a água, para nos acompanhar a um dos locais áquaticos mais bonitos onde já estivemos: uma espécie de algar/caverna, apenas acessível por mergulho. Como o sol estava a pique e existem uns buracos no teto da gruta, fomos presenteados com um cenário único, com os raios solares a furarem a água como se de colunas de luzes de tratasse! Um dos momentos altos do passeio e até mesmo das férias.
Dali partimos em direção a Velas, sempre junto à costa. Pelo caminho o Miguel foi-nos falando de outros locais de interesse, quasi não frequentados por turistas, que acabamos por explorar nos dias remanescentes…